Joana Vasconcelos inaugura a sua maior exposição de sempre no Reino Unido

Time Machine , que inclui uma nova escultura monumental suscitada pelas ruínas da em tempos gloriosa indústria têxtil britânica, fica na Manchester Art Gallery até 1 de Junho.

Foto
Lilicoptère ,obra da artista plastica Joana Vasconcelos Rui Gaudêncio

Foi em 2005, quando se aproximou, na Bienal de Veneza, dos 20 mil tampões higiénicos com que Joana Vasconcelos construiu a sua Noiva, que Natasha Howes ficou maravilhada com o trabalho da artista portuguesa. Entretanto, passaram-se nove anos e várias bienais de Veneza, incluindo aquela em que um cacilheiro atracou na cidade italiana – só agora a curadora inglesa está finalmente em condições de inaugurar a maior exposição de sempre de Joana Vasconcelos no Reino Unido, Time Machine , que abre este sábado, dia 15, e fica na Manchester Art Gallery até 1 de Junho.

“Pensámos que seria interessante trazer Joana Vasconcelos a Manchester por causa da História da indústria têxtil”, disse a curadora à Agência Lusa, aludindo às sucessivas experiências da artista portuguesa com materiais vernaculares e industriais, de que é exemplo particularmente espectacular a instalação Varina, a gigantesca colcha de renda que suspendeu da Ponte D. Luís I, no Porto.

Entre outras peças já apresentadas em exposições anteriores, Time Machine inclui a estreia mundial de Britannia, uma “monumental obra têxtil” que se despenha em cascata pelos três andares da galeria, recebendo os visitantes no átrio e teletransportando-os para a gloriosa era da Revolução Industrial que fez de Manchester um dos maiores centros mundiais da produção de algodão.

“Orgulho-me particularmente do diálogo estabelecido entre a colecção da Manchester Art Gallery e os meus trabalhos, assim como da interacção entre a História e as tradições da cidade e outras realidades de proveniências completamente diferentes – como aquelas que são específicas do meu país natal”, afirma a artista, citada pela galeria.

Tal como Britannia, três outros trabalhos foram criados especificamente para Time Machine, neste caso interagindo assumidamente com o acervo encontrado na Manchester Art Gallery: as novas criações das séries Tetris, que referencia os azulejos de William de Morgan expostos na sala dos Pré-Rafaelitas, Esculturas em Cimento, resposta a Atalanta (1888) de Francis Derwent, e Eve Tempted (1877), de John Spencer Stanhope, e Pinturas em Croché.

Natasha Howes sublinha também que é um privilégio para Manchester juntar pela primeira vez os três “veículos” de grandes dimensões – um helicóptero Bell 47, um Morris Oxford e uma motocicleta – que Joana Vasconcelos transformou, respectivamente, em Lilicoptère (2012),  War Games (2011) e wwww.fatimashop.com (2002).

Trabalhos como esses, em que a artista ironiza acerca da guerra em contexto pós-moderno e da religião como shopping do povo, podem ser vistos como “uma crítica da sociedade contemporânea, desestabilizando as visões tradicionais da sexualidade feminina, do estatuto da mulher e da cultura de consumo”, enfatiza a curadora, notando o modo como Joana Vasconcelos joga com dicotomias como “artesanal/industrial”, “público/privado”, “privado/público”, “tradição/modernidade” e “cultura popular/cultura erudita”.

A exposição da Manchester Art Gallery é acompanhada por um catálogo de 36 páginas com um ensaio de Helen Laville. com Lusa

 

Sugerir correcção
Comentar