J-K revela outra faceta do hip-hop em português

O rapper português J-K, da família Monster Jinx, tem novo álbum e vai apresentá-lo este sábado.

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Podia-se falar das origens congolesas, da infância na Sertã ou da ligação com a editora nortenha Monster Jinx, mas o rapper J-K cresceu com o advento da Internet e esse facto é ainda mais relevante. Foi isso que o fez descolar das tendências impostas inicialmente no hip-hop português, optando por embrenhar-se na cultura geek e batidas virtuosas.

“No início tinha muito aquelas influências dos anos 1990 e inícios de 2000”, diz ele, confessando que entre salas de hip-hop, chats como o miRC ou através do canal MTV, o hip-hop acabou por entranhar-se nos seus genes juntamente com a vontade de criá-lo.

Sorriso Parvo, que considera ser o seu primeiro álbum após alguns menos relevantes, foi lançado o mês passado mas esteve em construção quatro anos. Nesse disco deixou os samples e uma das derivações do hip-hop, o boom-bap, por uma produção mais meticulosa que realça o registo introvertido das histórias que acaba por contar.

As suas letras narram relações trágicas com raparigas fictícias – cujos resultados poderiam inspirar um episódio de Seinfeld ou uma faixa do rapper Drake – e complexos de desajustamento em relação ao que o rodeia, mas também há faixas com sentido de humor que fogem a esta regra, como Ninjas, onde J-K se transforma num ninja.

“As pessoas vão achar que a capa é irónica mas falo sobre sorrir – mesmo que seja um sorriso parvo – quando tudo parece mal à tua volta” afirma, mostrando que domina com à vontade as transições quase imperceptíveis entre ser sério e divertido. Letras como "num mundo ideal talvez eu não existia", “estou sem metas / vou viver nas décadas da decadência” ou “eu só quero que ela goste de mim”, reflectem a insegurança que J-K celebra tão bem.

A produção ficou a cabo de DarkSunn, companheiro de editora com quem tem colaborado há muito – “foi fácil escolher os instrumentais, até porque [o DarkSunn] deu-me os seus melhores”, afirma – e também de Raez e Taseh, responsáveis por um par de faixas. Ainda como convidados participam os rappers Maze, dos Dealema, e Stray.

O álbum encontra-se disponível para descarregar gratuitamente no bandcamp do artista. Uma opção de distribuição partilhada pela editora Monster Jinx. Enquanto as digressões oficiais não começam, J-K vai actuar hoje, sábado, no Armazém do Chá ao lado de Stray na digressão do DJ Slimcutz, um dos membros fundadores da editora. A entrada é livre.

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