Islamistas prometem destruir todos os mausoléus de Tombuctu

Não ficará um único mausoléu”, ameaça líder rebelde. Outrora considerada a jóia africana, a cidade de Tombuctu (também chamada de Timbuktu), Património Mundial da UNESCO desde 1988, está em risco de perder a sua história.

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Rebeldes estão a atacar os monumentos com picaretas AFP

Os confrontos no Mali não têm um fim à vista e nem os alertas e a pressão da comunidade internacional conseguem impedir que os rebeldes continuem a destruir os locais de culto de Tombuctu, no Norte do país. No último domingo mais mausoléus foram destruídos, desta vez com uma ameaça: “Não ficará um único mausoléu”.

A ameaça é de Abou Dardar, líder dos rebeldes do Ansar Dine, um grupo com ligações à Al-Qaeda e que quer impor no Mali a sharia (lei islâmica), que não aceita que a população local, sufista, venere mausoléus de santos. À AFP, o líder rebelde garantiu que todos os locais de adoração em Tombuctu serão destruídos porque “Alá não gosta”. “Estamos a destruir todos os mausoléus escondidos nos bairros”, acrescentou.

Há muito tempo que o grupo islamista já tinha prometido destruir todos os mausoléus e locais de culto. Esta nova ameaça surge apenas três dias depois da ONU ter enviado para África forças militares com no intuito de ajudar o Governo do Mali  a recuperar as regiões ocupadas pelos rebeldes.

E os rebeldes já mostraram que a ameaça é séria e no mesmo dia que a divulgaram, destruíram pelo menos quatro locais de culto. Segundo algumas testemunhas contaram à AFP, os islamistas andam pelo terreno de picaretas a destruir o que lhes aparece.

Até agora sabe-se que dos 16 mausoléus que estão inscritos na lista do Património Mundial da UNESCO muitos já foram afectados, assim como também a mesquita Sidi Yahia já foi invadida. É difícil entrar na cidade e perceber a real dimensão dos estragos e o que foi ou não destruído. No entanto, os relatos dos cidadãos permitem perceber que o património de Tombuctu está realmente em risco. No Facebook, na página Le patrimoine archéologique syrien en danger, criada por um grupo de arqueólogos sírios, franceses e espanhóis a trabalhar na Síria para denunciar a situação do país, é possível ver fotografias e vídeos da destruição.

Situada às portas do deserto do Sara, Tombuctu, que deve a sua fundação aos tuaregues, fica a mil quilómetros da capital do Mali, e tem cerca de 30 mil habitantes. O património que hoje está ameaçado é testemunha da era dourada da cidade, que nos séculos XV e XVI se tornou num centro de propagação do islão em África.

Entre os monumentos, destacam-se as três grandes mesquitas (Djingareyber, Sankoré e Sidi Yahia) e as bibliotecas que contêm milhares de manuscritos, alguns datados da era pré-islâmica.

A UNESCO, que tem emitido vários alertas e pedidos de protecção para a cidade de Tombuctu, já inscreveu a cidade na lista do Património da Humanidade em risco. Sobre a nova ameaça a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ainda não se pronunciou. 

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