Imprensa Nacional-Casa da Moeda lança-se na edição infanto-juvenil

Biografias de Salgueiro Maia e Fernando Pessoa para leitores mais jovens são duas das apostas da INCM, numa parceria com a editora Pato Lógico

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No seu plano editorial para 2014 a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) aposta, primeira vez, no sector infanto-juvenil. “Uma das funções mais nobres de todas é a formação de novos públicos”, diz ao PÚBLICO Duarte Azinheira, director da unidade de publicações da editora do Estado.

Porquê só agora? “Nos últimos anos, a INCM teve talvez um entendimento mais conservador do que era o seu papel. A partir de 2010, numa perspectiva de diversificação, e de descobrir como é que podemos cumprir a nossa missão de publicar obras de qualidade e que ajudem a preservar o património, nasceu, naturalmente, a ideia de trabalharmos o público infanto-juvenil. Da mesma maneira que chegámos ao design.”

Numa primeira fase, serão publicadas biografias de “portugueses notáveis”. Notáveis por várias razões. “Até ao final de Abril ou Maio, serão editadas as [de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Salgueiro Maia (a propósito dos 40 anos do 25 de Abril que se comemoram este ano) e do Soldado Milhões, o mais condecorado soldado português em combate durante a Primeira Guerra Mundial. Serão sempre livros ilustrados.”

José Jorge Letria assinará os textos acompanhado por diferentes ilustradores, “ainda em negociações”, pelo que os nomes não podem por enquanto ser divulgados. Duarte Azinheira garante, no entanto, que são “ilustradores importantes no panorama nacional”.

Sabendo-se existirem já no mercado biografias destes portugueses destinadas ao público mais jovem e dizendo o director da unidade de publicações que “não quer concorrer com as editoras privadas”, pergunta-se o que se pode esperar de diferente de uma edição da INCM: “Uma ligação o mais verosímil possível aos textos originais e aos que foram publicados e, naturalmente, rigor na transposição para passar a mensagem a um público infanto-juvenil.” Isto falando do texto. “E uma ilustração de alta qualidade. Seguindo os passos do que nós temos vindo a fazer com a nossa colecção de arquitectura e design”, falando da imagem.

A editora Pato Lógico, do ilustrador André Letria, “que está muito treinado neste sector”, é o parceiro neste novo segmento a explorar.

Os pequenos leitores também podem contar com conteúdos próprios na documentação dos museus nacionais. “Haverá exposições que, além dos catálogos, terão documentação com conteúdos infanto-juvenis. Pode ser um livro de actividades para crianças, uma interpretação da exposição para um público mais jovem”, exemplifica Duarte Azinheira.

Neste âmbito, será editado já em Fevereiro O Tempo Resgatado ao Mar, com ilustrações de Danuta Wojciechowska, que servirá de apoio à exposição com o mesmo nome a realizar no Museu de Arqueologia, em Lisboa.

Para Duarte Azinheira, “hoje, a palavra-chave da INCM é ‘parceria’”, seja com “operadores públicos do domínio da cultura, seja com entidades privadas”.

Nos planos da INCM para este ano, está prevista a colecção Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa, dirigida por Carlos Reis, “o cânone da literatura portuguesa, que reúne os nomes maiores da literatura portuguesa, do século XV à actualidade: Gil Vicente, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Camilo Pessanha ou Mário de Sá Carneiro”, com design de Henrique Cayatte e o apoio do Plano Nacional de Leitura e do Instituto Camões.

A assinatura de um protocolo com a Direção-Geral do Património Cultural assegurará o lançamento de mais de cem projectos editoriais, tornando-se a INCM a editora oficial da rede nacional de museus e palácios, bem como dos teatros nacionais.

A INCM editaria José Saramago? “Nunca pensámos nisso, mas Saramago é um grande escritor, faz sem qualquer dúvida parte do cânone da literatura portuguesa. Único Nobel da Literatura português, absolutamente notável, tocante, do séc. XX. Portanto, em abstracto, Saramago teria todas as condições de ser editado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, da mesma forma que são publicados grandes autores portugueses. Agora, a Imprensa não entra nessas corridas pela compra de direitos. Não é, de todo, o nosso papel”, diz Duarte Azinheira. Mas não tem dúvidas: “Seria uma honra para qualquer editora, portuguesa ou estrangeira, editar José Saramago.”

 
 
 

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