Guitarristas dominam programação do Jazz em Agosto

James Blood Ulmer, Fred Frith, Marc Ribot ou Keiji Haino são alguns dos virtuosos da guitarra que vão estar presentes na 31.ª edição do festival Jazz Agosto, distinguido com prémio europeu.

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Ceramic Dog Barbara Rigon
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Fred Frith dr
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James Blood Ulmer Julia Wesely

As guitarras de James Blood Ulmer, Fred Frith, Marc Ribot, Marc Ducret ou Keiji Haino, tudo nomes consensuais e consagrados do jazz e de alguns dos seus afluentes, vão fazer-se ouvir, de 1 a 10 de Agosto, no auditório ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian, na 31.ª edição do festival Jazz em Agosto, soube-se nesta terça-feira.

“Vai ser dado destaque à guitarra”, afirmou o director artístico do festival, Rui Neves, em conferência de imprensa, e é bem verdade. A abertura do evento, a 1 de Agosto, dar-se-á ao som da guitarra do histórico James Blood Ulmer, na companhia da The Memphis Blood Band e de Vernon Reid. Pela guitarra do veterano James Blood Ulmer circulam as memórias do blues, jazz, soul ou funk, enquanto Vernon Reid é outro guitarrista de excepção, com um percurso errante, entre o rock do seu grupo Living Colour e diversas colaborações avulsas na área do rock, funk ou jazz.

Mas nem só de guitarristas viverá o festival. Nos restantes nove concertos do acontecimento haverá também brilhantes baixistas, como o americano e prolífico Bill Laswell, que tocará integrado na formação Massacre, a 9 de Agosto, ao lado do guitarrista Fred Frith e do baterista Charles Hayward, naquela que promete ser uma sessão de libertação de energia ancorada no rock e na improvisação jazzística. Outros dois nomes que se repetem no festival são os muitos aclamados Evan Parker, saxofonista, e Matthew Shipp, pianista, que estarão em evidência a 2 de Agosto.

Na conferência de imprensa foi dado destaque, quer pela administradora da Gulbenkian, Teresa Gouveia, quer por Rui Neves, a uma distinção internacional atribuída ao festival (o Europe Jazz Award for Adventurous Programming in European Music) pela associação Europe Jazz Network, que junta programadores, festivais, organizações ou clubes de jazz europeus.

Os jurados do prémio – que será entregue no festival Jazzahead!, em Bremen, na Alemanha, no sábado – realçaram a identidade do festival, a qualidade artística e o espaço ao ar livre onde decorre.

O ano passado gerou-se alguma polémica à volta do festival depois de Rui Neves ter afirmado que o evento não tem acolhido muitos criadores portugueses, porque, na sua visão, aquilo que é feito em Portugal não é relevante no formular de novos caminhos para o jazz. Na edição de 2014 haverá duas formações lusas, mais uma do que no ano passado.

O Lisbon Berlin Trio, liderado pelo guitarrista Luís Lopes, irá apresentar o seu novo álbum, ao lado dos alemães Robert Landfermann, em contrabaixo, e Christian Lillinger, na bateria. O encerramento, a 10 de Agosto, estará por conta da big band L.U.M.E. (Lisbon Underground Music Ensemble), liderada por Marco Barroso, situando-se algures entre o jazz, o rock ou o funk.  

Um dos concertos que, presumivelmente, mais atenções atrairão, será o dos Ceramic Dog, a 3 de Agosto, um grupo liderado pelo conhecido virtuoso da guitarra, Marc Ribot, com vasta discografia a solo e inúmeras colaborações, de Tom Waits a Elvis Costello, de John Zorn aos portugueses Dead Combo. Na Gulbenkian, o americano far-se-á acompanhar pelo baixista Shahzad Ismaily e pelo baterista Ches Smith, para uma sessão assumidamente rock.  

Outra estrela da guitarra é o britânico Fred Frith, que se irá desdobrar por três concertos. Para além dos Massacre, a 7 de Agosto, estará também em palco ao lado de dois outros músicos cotados, o histórico baterista Hamid Drake e Joëlle Léandre, para aquele que será um encontro inédito. No dia seguinte, Léandre e Frith vão encontrar-se de novo no anfiteatro ao ar livre, sob a denominação MM Quartet, na companhia de Alvin Curran e Urs Leimgruber, para exporem uma sonoridade exploratória, que envolve a música improvisada, a electro-acústica ou a electrónica.  

Improvisação sem remissão é aquilo que se espera da formação Big Rain, a 6 de Agosto, liderada pelo trompete de Franz Hautzinger, embora seja possivelmente a guitarra e voz de Keiji Haino a causarem mais impacto. É que o japonês é uma daquelas figuras que têm influenciado sucessivas gerações de músicos aventureiros das mais diversas tipologias.

Outro projecto com guitarra lá dentro é Real Thing #3, ideia desenvolvida pelo guitarrista Marc Ducret, com três trombones, para uma sessão de jazz de câmara, à volta de um texto do escritor Vladimir Nabokov.

Para completar a programação, o festival propõe sete sessões de cinema documental, exibindo The Soul of a Man (2003), de Wim Wenders, primeiro dos sete filmes que compõem a série televisiva The Blues, produzida por Martin Scorcese, ou Dancing to a Different Drummer (1993-94), de Julian Benedikt, que aborda a música e o percurso do baterista Chico Hamilton.

Numa parceria entre o festival e a editora portuguesa Clean Feed, vai ser lançado o álbum Pharoah Sanders & The Underground, resultante da colaboração entre Pharoah Sanders, Rob Mazurek e os colectivos São Paulo e Chicago Underground, registada na edição do ano passado do festival.

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