Gabriel García Márquez

Às vezes parece que todos os obituários de Gabriel García Márquez foram escritos pela mesma comitiva. Realçam a importância e a influência do grande romancista e dizem, com certeza combinados, que é "provavelmente" o melhor escritor de língua espanhola desde Cervantes.

Como se pode dizer isto? Cervantes escreveu um grande romance que também era grande no mau sentido, cheio de monotonias ilegíveis. García Márquez escreveu vários romances divertidíssimos que dão prazer desde a primeira à última página.

Cervantes foi muito importante e influente, mas García Márquez, antes e depois de ser bastante menos importante e influente (por razões meramente históricas), era um escritor que escreveu muito melhor.

Os melhores romances de García Márquez — O Outono do Patriarca (1975) e Cem Anos de Solidão (1967) — são muito, muito melhores do que Dom Quixote. Lê-los é como trocar de imaginações. É maravilhoso.

É pena que os escritores que conseguem escrever bem e serem bem lidos sejam classificados como monumentos nacionais ou internacionais. García Márquez escrevia e imaginava tão bem que era bom em castelhano, português, inglês, francês e, com certeza, em todas as línguas do mundo.

É ao mundo — às pessoas, sejam elas quais forem e de onde vieram — que García Márquez pertence. Porque conseguiu cativá-las, por escrever tão bem.

É tão colombiano e sul-americano como Pessoa era português e europeu. Era um bocadinho: mas não chegou. Graças a ele.

 

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