Seguradora paga 18 milhões de euros pelas pinturas roubadas na Holanda

Fundação que era dona das pinturas roubadas na Holanda dá sinal de pouca esperança de as encontrar.

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Eugen Darie, ao centro, e Alexandru Bitu, à direita, à entrada no tribunal na terça-feira Bogdan Cristel/REUTERS

Usadas como ferramenta para pressionar a justiça romena, o paradeiro das pinturas de Picasso, Matisse ou Monet roubadas em Outubro de 2012 de uma galeria de Roterdão é uma incógnita. Com o julgamento dos cinco alegados assaltantes em curso em Budapeste, surgiu mais um sinal de que há pouca esperança em reaver as obras – a Fundação Triton, detentora das sete pinturas roubadas da galeria Kunsthal, passou os direitos de propriedade a uma seguradora e recebeu já cerca de 18 milhões de euros.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, a seguradora londrina Lloyds foi arrolada pelo tribunal romeno como parte cível no julgamento depois de ter sido revelada a existência de um acordo entre a Triton e uma outra seguradora, a Hiscox Europe, quanto à passagem de propriedade das pinturas, como precisa o New York Times. O diário americano explica que a fundação holandesa, criada para gerir o legado do coleccionador e milionário holandês Willem Cordia, assinou um contrato de cedência de propriedade das sete pinturas em Fevereiro com a sua seguradora, a Hiscox – subsidiária da Lloyds.

No banco dos réus sentam-se Radu Dogaru, o alegado cabecilha do grupo de assaltantes, Mihai Alexandru Bitu, Eugen Darie, o modelo e atleta Petre Condrat, que não foi detido e é acusado de tentativa de venda de arte roubada, e a mãe de Dogar – que chegou a dizer, e depois negar, que tinha incendiado as pinturas no fogão da sua sauna para proteger o filho. Um grupo de peritos foi chamado a analisar o que restou da suposta queimada e encontrou vestígios de pinturas a óleo datadas do final do século XIX/início do século XX. O grupo é acusado de perpetrar um dos maiores roubos de arte da última década na Holanda.

As obras em causa são Cabeça de Arlequim, de Pablo Picasso, Waterloo Bridge e Charing Cross Bridge, de Claude Monet, Mulher diante de Uma Janela Aberta, de Paul Gauguin, Leitora em Branco e Amarelo, de Henri Matisse, Mulher com os Olhos Fechados, de Lucien Freud, e Auto-retrato, de Meyer de Haan.

Segundo o New York Times, a sessão de terça-feira do julgamento foi rica em contradições, com confissões sobre o roubo das peças, mas com declarações contraditórias sobre os acontecimentos após o transporte das pinturas até Carcaliu, a aldeia da mãe de Dogaru. Um dos réus, Eugen Darie, mantém que as sete pinturas seguiram até à Roménia após o roubo, por exemplo. Porém, o advogado de defesa de Dogaru disse na terça-feira que o alegado cabecilha teria indicado que cinco das pinturas se encontram num país a leste da Roménia, arriscando que se tratava da Moldávia, e outras duas tinham sido deixadas na Bélgica.

Ontem, o juiz Ioan Adrian Chitoiu acabou por pedir aos advogados de defesa e aos réus que parassem de fazer as suas “muitas declarações sobre a existência ou não-existência dos quadros” até “terem alguma prova” que sustente as suas afirmações. Houve ainda uma explosão de impaciência do juiz perante o calçado informal que Radu Dogaru apresentou em tribunal (uns ténis Adidas), acrescenta o diário norte-americano, que descreve o ambiente da sessão como de uma “farsa” – a sessão foi interrompida por quatro horas, para discutir o pedido de Dogaru de mudança de juiz.

Ainda segundo a Associated Press, os acusados, se considerados culpados, incorrem numa pena que pode chegar aos 20 anos de prisão. A agência cita uma das advogadas de defesa, Maria Vasii, dizendo que a 22 de Outubro, data da próxima audiência, os réus se vão declarar culpados na expectativa de verem as suas penas reduzidas.

  

   

 
 
 

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