Fantasporto recorre a despedimento colectivo para evitar fim

Director admite que pode ser o "pré-fim" do festival. Beatriz Pacheco Pereira, que também faz parte da direcção, é uma das duas assalariadas que ficam na cooperativa.

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Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira, com Manoel de Oliveira, no Fantas 2013 nfactos/Fernando Veludo

A direcção da Cooperativa Cinema Novo, responsável pelo festival de cinema Fantasporto, avançou para um despedimento colectivo na tentativa de conseguir “um mínimo de equilíbrio financeiro que permita a continuação da sua actividade”.

Mário Dorminsky, da direcção, confirmou ao PÚBLICO o pré-aviso datado de 20 de Março, adiantando que as cartas aos seis trabalhadores afectados foram enviadas na segunda-feira. “Pode ser um pré-fim do Fantasporto mas fizemos isto para evitar o pior, uma insolvência”, refere, desolado.

O futuro do Fantasporto será jogado nos próximos meses. Depende agora (mais do que nunca) de subsídios do Estado, de patrocínios e pode ainda passar pela venda ou hipoteca de bens pertencentes à cooperativa. “Temos o fabuloso prédio do ex-Cinema Jardim, na rua da Constituição, no Porto, à venda por 430 mil euros mas não o conseguimos vender”, exemplifica, ao mesmo tempo que assegura o “pagamento de todas as dívidas a credores”.

Para já, a Cinema Novo contraiu um empréstimo para pagar as indemnizações às pessoas despedidas. Para que a próxima edição do Fantasporto se realize é também imprescindível o apoio do Estado que Dorminsky espera que seja assegurado “pelo menos, nos valores atribuídos em 2012”, mantendo os 100 mil euros do Instituto do Cinema e do Audiovisual. É preciso mais, reconhece. “Temos feito contactos regulares com a secretaria de Estado da Cultura, ainda hoje enviámos mais uma carta, e defendemos que o Fantasporto deve ser considerado um evento de interesse público. Para a próxima edição até já temos um programa suportado pelos 75 anos do Feiticeiro de Oz e com uma especial ligação à música. Concorremos ao ICA e a concursos da União Europeia. Já contactámos mais de 500 empresas à procura de patrocínios. Já fiz coisas que nunca pensei fazer colocando-me numa posição em que estive quase a mendigar apoios a amigos”, para rematar: “Espero algum milagre”.

A “dolorosa decisão” era inevitável. “Conseguimos aguentar o último ano a lutar pelo equilíbrio”, diz, lembrando que em Março de 2012 chegou a ser proposto em assembleia geral uma redução de 50% dos salários mas que acabou por ser chumbada. Para uma imagem rápida da situação financeira, resume: “Há cinco anos tínhamos um encaixe de um milhão de euros e despesas de 200 mil euros com salários, em 2012 tivemos um encaixe de 300 mil euros e os mesmos 200 mil. Era impossível continuar assim”.

Os números que constam do pré-aviso indicam, porém, que nos últimos anos a carga salarial passou de 119 mil euros para 193 mil euros e que o peso dos encargos com os salários em relação aos lucros passou de 17% em 2009 para 43% em 2012. O director justifica que esta evolução foi causada pelo aumento de impostos e pela contratação de uma pessoa.

O despedimento colectivo implica que na cooperativa ficam apenas duas pessoas, além de Dorminsky (que não recebe ordenado por se encontrar com contrato suspenso dado que é vereador de Gaia): Beatriz Pacheco Pereira (casada com Dorminsky e que tem funções de direcção, com um salário de 4500 euros brutos) e Irene Pires (secretária, com um salário de 2040 euros).

A “retirada” dos patrocinadores não ajudou a equilibrar as contas. “A situação está caótica. A única verba segura que tenho neste momento são dez mil euros de um patrocinador.” A evolução do mercado do audiovisual que se traduziu numa redução drástica das receitas com as vendas e a quebra nas bilheteiras (em 2012 foi de 40 mil euros e na edição deste ano ficou-se pelos 36 mil) fizeram o resto.
 
 

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