Evereste ou Qomolangma? Uma montanha de problemas linguísticos

Novo número da revista online de estudos sino-lusófonos reflecte sobre a língua e a toponímia

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Na República Popular da China, que considera o Tibete parte integrante do seu território, usa-se o nome chinês: Zhumulangma Gopal Chitrakar/REUTERS

Everest, Qomolangma, Sagamartha ou Zhumulangma? Fixar uma designação toponímica para o pico mais alto do mundo parece tão difícil como escalar os 8848 metros daquela mítica montanha dos Himalaias.

“Quem tem o direito de decidir o nome de um lugar? É o Governo do país onde se situa esse lugar? O povo ou povos que habitam o local? O povo que primeiro descobriu esse local?”, pergunta o professor Miguel Fialho num artigo publicado na ultima edição do Port-Nês, uma revista online de estudos sino-lusófonos.

No caso do monte Evereste, o nome consagrado internacionalmente desde meados do século XIX é uma homenagem ao geógrafo britânico George Everest, que trabalhou nos serviços cartográficos da Índia entre 1830 e 1843. Mas na República Popular da China, que considera o Tibete parte integrante do seu território, a imprensa usa o nome chinês - Zhumulangma (ou simplesmente “Zhu Feng”), derivado do tibetano Qomolangma, e no vizinho Nepal chamam-lhe Sagamartha.

“Será que cada país ou povo tem o direito de dar um nome diferente na sua língua materna a qualquer local do mundo?”, pergunta também Miguel Fialho, professor do Centro de Formação de Intérpretes da Universidade de Economia de Negócios Internacionais de Pequim (UIBE).

O especialista adverte, contudo, que “se um país insiste que o nome utilizado para descrever um determinado local situado dentro das fronteiras desse país deverá ser decidido por ele, entra-se em território perigoso, já que tal insistência acabará por questionar a soberania linguística de outros países ou povos”.

Miguel Fialho, 32 anos, radicado na China desde 2005, licenciou-se em língua chinesa na Grã-Bretanha e fez depois um mestrado em Interpretação e Tradução.

O número de Primavera/Verão do Port-Nês, coordenado por Cristina Água-Mel, inclui também dois ensaios de Ana Cristina Alves e João Semedo sobre a escrita chinesa, uma entrevista com a directora da secção portuguesa da Rádio Internacional da China, Catarina Wu, e uma análise de Anabela R.Santiago sobre o soft power chinês.

Um relato do professor moçambicano Jorge Njal sobre o ensino do português numa escola de Hangzhou, o testemunho de uma estudante chinesa de português, um artigo sobre “tradução assistida por computador” e uma evocação dos 500 anos dos contactos entre Portugal e a China completam a edição.

O primeiro número do Port-Nês saiu há um ano, no Dia da Lusofonia (5 de maio): “Como estamos na China, fizemos questão de lançar a revista às cinco da manhã. Começámos no dia 5 do 5, às 5 horas”, referiu na altura Cristina Água-Mel.

O nome também é singular: “A ideia é ligar as duas línguas”, explicou aquela antiga professora da UIBE, uma das cinco universidades da capital chinesa com licenciaturas em português. A revista apoia-se no website homónimo concebido com “uma plataforma de contacto permanente entre a rede de professores e estudantes” de português na China.

Não contando com Macau e Hong Kong, há mais de 1100 jovens chineses a frequentar licenciaturas de português em 18 universidades diferentes. A maioria dos cursos foi criada nos últimos cinco anos, coincidindo com o desenvolvimento das relações económicas entre a China e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

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