EUA tentam adiar leilão de máscaras sagradas nativo-americanas em Paris

Os Hopi consideram as suas máscaras representações dos espíritos dos seus antepassados, mas juíza francesa autorizou a venda. Agora, a embaixada em Paris tenta sensibilizar a leiloeira.

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Angwushahay´i, uma das mais valiosas máscaras que vão a leilão esta segunda-feira DR

O leilão está marcado para esta segunda-feira à tarde, um tribunal francês deu-lhe luz verde mas os Estados Unidos continuam a tentar impedi-lo: 32 máscaras sagradas da tribo nativa-americana Hopi e outros artefactos da tribo San Carlos Apache irão à praça em Paris, mas a Embaixada dos EUA pediu o seu adiamento. Estas máscaras, representações impressivas e coloridas de rostos humanos, estão avaliadas em valores que oscilam entre os mil e os 80 mil euros.

“Nunca antes uma venda de arte ameríndia reuniu tantos objectos raros e ancestrais”, descreve o leiloeiro Alain Leroy, da casa de leilões francesa Eve, sobre a venda agendada para estes dias. Em causa estão cerca de 170 peças, entre as quais as “excepcionais” máscaras Hopi, cuja representante mais valiosa atinge um preço-base de licitação entre 60 e 80 mil euros. O povo Hopi, cujo território se situa hoje sobretudo no nordeste do Arizona, onde fica a sua reserva, tem como tradição a representação dos espíritos dos seus antepassados nestas máscaras, a cuja comercialização se opõe.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, a embaixada dos EUA em Paris pediu directamente no sábado à leiloeira que adie a venda destes objectos, que incluem não só as 32 máscaras Hopi, mas também outros artefactos de outras tribos indígenas norte-americanas, como frescos e bonecas. A embaixada argumenta que o leilão não deve avançar sem que os representantes da tribo Hopi (que, segundo um recenseamento de 2010, era composta por cerca de 18 mil pessoas), mas também da tribo San Carlos Apache sejam ouvidos sobre a iniciativa.

“A embaixada fez este pedido em nome das duas tribos para que elas possam ter a oportunidade de identificar os objectos, investigar a sua proveniência e determinar se têm direito a reclamar a devolução dos objectos ao abrigo da convenção da Unesco de 1970 sobre a exportação e transferência de propriedade cultural, de que França é signatária, ou ao abrigo de outras leis”, esclarece a embaixada em comunicado.

Proibida venda de artefactos nos EUA
O pedido judicial para impedir a venda foi interposto pela organização não-governamental de defesa dos direitos de povos indígenas Survival International, mas a juíza que avaliou o caso considerou que a venda, estando dentro da legalidade em termos do direito de propriedade francês, não poderia ser impedida por motivos morais ou filosóficos.

Nos Estados Unidos, a venda de artefactos de índios nativo-americanos é proibida desde 1990, mas a leiloeira disse em comunicado na sexta-feira, citado pelo New York Times, que “a lei americana não proíbe a venda de itens vindos de tribos índias quando estão nas mãos de particulares”. Alain Leroy disse este domingo ao Le Figaro que o leilão vai mesmo acontecer. “Os Hopi tiveram a possibilidade de fazer valer os seus argumentos perante um juiz que decidiu. Foram rejeitados. Tudo se faz dentro da mais estrita legalidade.”

Antes de a decisão ser conhecida, o director da organização, Stephen Corry, considerou lamentável “que uma leiloeira pareça preparada para desafiar a opinião pública e os sentimentos dos Hopi, que são os proprietários de direito destes objectos”. Em Abril, um leilão de 70 outras máscaras dos Hopi gerou também a indignação do então embaixador dos EUA em Paris e de defensores dos direitos dos povos indígenas como o actor e realizador Robert Redford, que classificou na altura a venda como "um sacrilégio" e “um acto criminoso que pode ter graves consequências morais”. Contudo, o leilão aconteceu e rendeu 930 mil euros em vendas.
 
 
 
 

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