Duas obras de artistas portugueses censuradas na China durante visita oficial de Cavaco Silva

Instalação de Miguel Palma e filme de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata retirados da exposição Onde é a China, em Pequim, noticia o semanário Expresso.

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"Alvorada Vermelha", de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata DR

Duas obras de artistas portugueses foram censuradas pelas autoridades chinesas e retiradas da exposição Onde é a China, no World Art Museum de Pequim, uma hora antes da chegada do Presidente da República, Cavaco Silva, para a inauguração da mostra durante a sua visita oficial à China, noticia o semanário Expresso neste sábado. A instalação Yami Chop Suey, de Miguel Palma, e o filme Alvorada Vermelha, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, foram retirados pelas autoridades chinesas, que confiscaram também os catálogos da exposição.

De acordo com o Expresso, os acontecimentos remontam a 16 de Maio, quando Cavaco Silva estava na China em visita oficial, tendo o chefe de Estado português estado presente na inauguração da mostra. Contudo, segundo disseram os serviços da Presidência ao semanário, a presença do Presidente da República foi apenas um item da agenda da mesma visita oficial, não tendo Cavaco Silva sabido “de qualquer problema relacionado com a censura a obras portuguesas”, escreve o semanário.

Onde é a China, que se encontra desde 29 de Maio no Museu do Oriente, em Lisboa, é uma exposição de pintura, escultura, vídeo e fotografia que visa mapear a complexidade das relações e mudanças culturais e sociais naquele país, convocando artistas de ambos os países. Da sua presença em Pequim foram então excluídos Yami Chop Suey, uma instalação-performance em modo de paródia sobre uma encomenda de comida chinesa e uma toalha de mesa na qual se mapeia o mundo, com a China no seu centro, e Alvorada Vermelha, o filme sobre a transformação de animais em alimentos no Mercado Vermelho de Macau que passou na edição de 2011 do festival IndieLisboa.

Ao que conta o Expresso, tudo aconteceu uma hora antes da inauguração, além de terem sido confiscados os catálogos da exposição. O jornal cita ainda um documento oficial enviado aos curadores de Onde é a China? em que se apresentam os motivos para a exclusão da peça de Miguel Palma: “esta obra de arte causaria sentimento de desconforto e experiências sensoriais negativas na audiência chinesa. Para manter a exposição popular na China, por favor remova esta obra”.

Tanto um dos comissários da mostra quanto os artistas visados confirmam a censura destes trabalhos, falando Miguel Palma em “tristeza” – “Tenho imensa pena de [este objecto artístico] não ser visto na China” – e Guerra da Mata de “coisas amargas” – “Não quero comentar as razões da censura, porque isso seria uma incompatibilidade de termos. Não existem razões para a censura”. João Rui Guerra da Mata acrescenta ainda no semanário: “Gostava de me sentir representado pelo Presidente da República”.

 

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