Buscas em casa de bailarino do Bolshoi após detenção de suspeito do ataque com ácido

A polícia de Moscovo efectuou buscas no apartamento de Pavel Dmitrichenko, bailarino solista da companhia.

Filin em 2011, ladeado pelo então casal presidencial Medvedev
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Filin em 2011, ladeado pelo então casal presidencial Medvedev VLADIMIR RODIONOV/AFP
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Sergei Filin, director artístico do Bolshoi depois do ataque

Horas depois da detenção de um dos suspeitos do ataque com ácido ao director artístico do Ballet Bolshoi na manhã desta terça-feira, a polícia de Moscovo efectuou buscas no apartamento de Pavel Dmitrichenko, bailarino solista da companhia e um dos seus mais importantes intérpretes. A polícia deteve esta manhã uma outra pessoa, tendo fontes policiais russas negado que esse suspeito se tratasse de um membro da equipa do Bolshoi, uma das companhias de dança mais antigas e importantes do mundo. A intriga interna no Bolshoi adensa-se entretanto, gerando-se novas trocas de acusações.

No âmbito “da investigação ao ataque contra Sergei Filin [director artístico do Ballet Bolshoi], agentes da polícia moscovita detiveram hoje um dos suspeitos para interrogatório”, dizem as autoridades em comunicado. “A pessoa está a ser interrogada”, disse à Bloomberg Maxim Kolosvetov, porta-voz da polícia. “Os investigadores têm 48 horas para decidir se será preso.” Entretanto, noticia o New York Times, foi desencadeada "uma série de acções de investigação urgentes" e decorreram as buscas ao apartamento de Pavel Dmitrichenko, que vive no mesmo complexo habitacional que Filin.

O Washington Post cita a televisão estatal russa, que indicou que o suspeito detido esta manhã pode ter sido o condutor do autor do ataque até ao apartamento de Filin, à porta do qual o director artístico do Bolshoi foi atacado, e que as autoridades teriam chegado até ele através dos registos de chamadas de telemóvel. Pavel Dmitrichenko não foi detido nem está acusado de qualquer crime.

O Ministério do Interior russo divulgou imagens das buscas e a agência de notícias Interfax cita um responsável policial que indica que as buscas resultaram em "várias pistas quanto ao organizador deste crime". A ideia da existência de um mandante por trás do perpetrador do ataque ao director artístico do Bolshoi tem vindo a crescer de importância no discurso das forças de segurança, e a porta-voz do Bolshoi, que na manhã desta terça-feira se tinha congratulado com a detenção de um suspeito porque "se se conseguiu chegar ao autor material do ataque, há esperança de encontrar a pessoa que o encomendou”, negou mais tarde ter conhecimento de problemas entre o bailarino solista e Sergei Filin. "Adorava pensar que a pessoa por trás disto é de fora do Bolshoi."

O suspeito, ainda não identificado, foi detido cerca das 06h desta terça-feira em Stupino, perto de Moscovo, e, segundo o tablóide moscovita Lifenews citado pelo jornal russo em língua inglesa Moscow Times, as autoridades suspeitariam de que o mesmo seria autor de escutas telefónicas. 

Na sequência do ataque de que foi alvo a 17 de Janeiro, Filin disse que os seus telefones, contas de email e de Facebook teriam sido violadas. Há cerca de um mês, a polícia russa tinha já anunciado que estava a identificar suspeitos do ataque a Filin, director artístico do Bolshoi desde Março de 2011 com um mandato é de cinco anos, mas indicava, citada pela Interfax, estar focada em funcionários do teatro, bailarinos e trabalhadores de outras áreas. Nikolai Tsiskaridze, bailarino principal do Bolshoi, no centro de uma polémica com a direcção-geral do teatro, diz, por seu turno, que viu Filin e Dmitrichenko discutir em público sobre questões financeiras, com o solista a acusar alegadamente o director artístico de favoritismo. "Toda a gente sabia", cita o New York Times

Sergei Filin, atacado na rua perto da sua casa a 17 de Janeiro por um desconhecido que lhe lançou um líquido corrosivo ao rosto – e que se trataria de ácido sulfúrico, de acordo com os dados preliminares das autoridades -, continua na Alemanha em tratamentos. As lesões que o ex-bailarino de 42 anos sofreu, sobretudo queimaduras de terceiro grau no lado direito da face e pescoço, levaram a três intervenções cirúrgicas oculares. O director artístico conta regressar ao trabalho no Verão, disse esta terça-feira a porta-voz do teatro.

O Bolshoi, um dos mais prestigiados teatros do mundo, fundado em 1776, está há mais de um mês publicamente em pé de guerra. No início de Fevereiro, Anatoly Iksanov, o director-geral da companhia ameaçou processar o bailarino principal, Nikolai Tsiskaridze, pelas suas críticas à forma como os responsáveis geriram o período após o ataque a Sergei Filin. Mas este foi apenas mais um capítulo da tensão entre ambos, que culminou com a sugestão de Iksanov de que o bailarino se demitisse e com fortes críticas de Tsiskaridze ao director-geral, queixando-se de "perseguição" por parte da administração do Bolshoi, que acusa de o ter implicado no caso do ataque a Filin e de o ter acusado de actos que levaram à demissão do anterior director artístico da companhia, Gennady Yanin.

Tsiskaridze, por seu turno, nega as acusações de que é alvo e queixa-se de um ambiente “estalinista” na gestão do Bolshoi. Os problemas entre o bailarino, uma celebridade na Rússia, e o director-geral ter-se-ão agudizado com a escolha de Filin, também ex-bailarino, para o cargo – há a tradição de os bailarinos principais, chegado o final das suas carreiras em palco (Tsiskaridze tem 39 anos), ascenderem ao cargo de director artístico das suas companhias.  
 

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