O cineasta austríaco Michael Glawogger, conhecido pelos seus documentários fortes sobre as tensões entre desenvolvimento e dimensão humana, morreu durante a rodagem de um novo projecto na Libéria. De acordo com a sua produtora, a Lotus-Film, a morte ter-se-á devido a malária. Glawogger, de 54 anos, foi homenageado em 2006 na terceira edição do Festival IndieLisboa – cuja edição de 2014 arranca esta quinta-feira.

“Com horror e grande consternação recebemos a notícia da súbita morte de Michael Glawogger”, comunicou quarta-feira a Film and Music Austria, uma associação da indústria cinematográfica do país natal do realizador. Glawogger, autor dos documentários Megacities, Whore’s Glory, Workingman's Death ou das ficções Slumming (2006), Kill Daddy Good Night (2009) e Contact High (2009), estava a filmar um projecto que o levaria a viajar de carro durante um ano da Europa de Leste a África, passando por países como Serra Leoa, Gâmbia e Senegal. Esse projecto, um documentário sobre um ano de viagens, traduzia-se também em crónicas diárias para um jornal austríaco, o Der Standard. Glawogger era “um dos mais importantes realizadores e documentaristas que a Áustria produziu”, diz ainda no site da Film and Music Austria o produtor Danny Krausz.

Apesar de focado na relação entre o desenvolvimento, a globalização e a dimensão humana – em Megacities (1998) filmou a luta pela sobrevivência nas megalópoles Bombaim, Nova Iorque, Moscovo e Cidade do México, em Whore’s Glory (2011) abordou a prostituição através de retratos de mulheres de vários países, em Workingman’s Death (2005) contou a história de trabalhos extremos para ganhar a vida e mesmo a comédia Slumming era sobre os yuppies -, o presidente do Instituto do Cinema Austríaco, Roland Teichmann, descreve Glawogger como um cineasta que “nunca se permitiu ser estereotipado e deixa uma obra cinematográfica que entrou no cânone do cinema mundial”, disse, citado pela Variety.

O seu projecto mais recente foi a série documental em 3D sobre arquitectura Cathedrals of Culture, que se estreou este ano no Festival de Cinema de Berlim e no qual a sua porção analisava a Biblioteca Nacional da Rússia. Outros realizadores envolvidos no projecto colaborativo são Robert Redford ou Wim Wenders.

Em 2006, o IndieLisboa homenageou o realizador austríaco na secção Heróis Independentes a par do português Edgar Pêra, de Jay Rosenblatt e Nobuhiro Suwa. O mesmo festival português exibiu, já em 2012, Whore's Glory, que viria a receber o Prémio do Público.