Centenas abraçaram uma Casa da Música com futuro incerto

Políticos, agentes culturais e cidadãos contra corte de 30% no financiamento do Estado. Director artístico acredita em recuo do Governo

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Cerca de 250 pessoas abraçaram a Casa da Música Fernando Veludo/nFACTOS

Um domingo à tarde na praça da Casa da Música não costuma ser isto: um enorme cordão humano em torno do “meteorito” de Rem Koolhaas, num protesto de centenas de pessoas (250, nas contas da PSP) contra os cortes de 30% ao financiamento público da instituição.

Figuras da política e da cultura associaram-se a cidadãos anónimos contra o corte de 30%, em vez dos 20% acertados em Abril entre o anterior secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, e a fundação, que motivou no dia 18 a demissão da administração da instituição.

“Viva a Casa da Música!”, gritava Rosa Santos, 66 anos, no cordão humano. “Querem cortar os apoios à Casa da Música e não só à Casa da Música: querem acabar com a cultura aqui no Norte”, disse ao PÚBLICO. Luís Moutinho foi ao protesto com o filho e receia que este corte, que significa uma redução de mais um milhão de euros a juntar aos dois já acordados com a Secretaria de Estado, ponha em causa “tudo” o que não seja espectáculos, acabando com as actividades educativas e sociais da Casa da Música.

O director artístico da instituição diz que o corte de 30% “representaria” a impossibilidade de prosseguir a linha de qualidade na oferta da Casa da Música — António Jorge Pacheco prefere usar o verbo no modo condicional, acreditando que o Governo recue. 

Intervenções recentes como a de Paulo Rangel (que disse que as questões da Casa da Música ou da RTP “mereciam” uma manifestação na Av. dos Aliados — o PÚBLICO não o viu no “abraço à Casa da Música”) e do deputado do CDS-PP João Almeida (que criticou a excepção Centro Cultural de Belém, que não será abrangido cortes de 30% nos apoios do Estado às fundações conforme o acordado com Viegas) dão esperança a Pacheco. “Há um consenso alargado que tem que haver cortes, mas uma contribuição de 20% é substancial e é aquilo que foi acordado”, referiu.

O bloquista João Teixeira Lopes, primeiro subscritor de uma petição contra o corte de 30% à CdM, sublinhou a “urgência” de “fazer algo pela Casa da Música e pela região”. “O Porto está a ser atacado em todas as frentes: na questão do aeroporto, de Serralves, do teatro São João, é uma das regiões com mais pobreza e desemprego — e agora na Casa da Música”, concretizou.

João Fernandes, subdirector do Museu Rainha Sofia de Madrid e ex-director artístico do Museu de Serralves, lembra que a programação cultural de excelência se faz “com muita antecedência” — a da Casa da Música foi apresentada em Novembro à luz de uma verba pública de oito milhões. “A Casa da Música foi um bem que aconteceu ao Porto, com os seus agrupamentos musicais” que representam a cidade no mundo, e “não pode ser curto-circuitada por cortes imprevistos” e “injustificados”, defende. 

Para o candidato do PS à câmara do Porto, Manuel Pizarro, o Governo demonstra “falta de respeito em relação ao Porto e à Casa da Música” ao “dar o dito por não dito”. João Semedo, coordenador do Bloco de Esquerda, não atira a toalha ao chão: “Se o povo acabou com a TSU, também pode acabar com este corte”.

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