Carruagens da CP vão ser “galerias” de arte pública até ao fim do ano

CP convidou seis artistas, entre eles Vhils, a redecorarem o interior de carruagens de norte a sul do país. O projecto chama-se Janela

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Carruagens da Linha de Cascais vão ser galerias de arte em movimento João Gaspar/Arquivo

A moda de pintar carruagens de comboios com graffiti de inspiração e qualidade variáveis já tem alguns anos, mas a CP – Comboios de Portugal decidiu elevá-la ao estatuto de arte pública. Até ao final do ano, dez carruagens das linhas de Braga, Porto, Aveiro e Cascais vão transformar-se em galerias de arte circulante, decoradas com imagens em vinil.

O convite foi feito a seis artistas plásticos – com destaque para Alexandre Farto, ou Vhils, celebrizado pela arte urbana em que escava paredes para revelar rostos – que redecoraram sobretudo o interior de carruagens do Norte ao Sul do país para o projecto Janela, dirigido pela associação sem fins lucrativos P28.

As mensagens aplicadas em vinil no interior das carruagens estacionadas na estação de Contumil, no Porto, deixam adivinhar eventuais conversas atípicas ao longo das viagens sobre carris: “Tens medo que faça amor contigo?”, “Às vezes não falo com as pessoas para ver se sentem a minha falta” ou “Sou infeliz". Parecem balões de banda desenhada sobre os passageiros que sob elas se sentam.

“As carruagens são uma peça muito importante na indústria e até na arte – começaram a ser pintadas nos anos 70 em Nova Iorque com graffiti”, explica à Lusa Sandro Resende, director artístico do projecto Janela, para considerar que “os writers [nome dado aos artistas de graffiti na gíria da arte urbana] são muito importantes na nossa sociedade”.

Para Sandro Resende, “a arte urbana é muito importante numa cidade, seja nas paredes, seja nas carruagens, e isto não vem substituir nem uma coisa nem outra”, pelo que não vê “qualquer tipo de problema em que venham a ser grafitadas por outros artistas”. “Acho que até é essencial para que as coisas andem um bocadinho mais para a frente”, diz, em referência à evolução da aceitação da arte de rua, “para que não se veja a arte urbana como qualquer tipo de vandalismo, o que é uma parvoíce”.

O director de projectos da P28 esclarece que “a CP queria investir em arte contemporânea”, pelo que lhes foi sugerida a utilização dos comboios como “o melhor suporte possível para trabalhar”, mas sempre com “respeito pelas carruagens em si”. Por isso, apenas uma composição na Linha de Cascais, em Lisboa, foi redecorada no exterior, com três carruagens alteradas pelo artista catalão Alberto Folch. Da lista de artistas convidados constam ainda o brasileiro Jorge Fonseca e os portugueses Luís Alegre, Francisca Torres e Bruno Pereira.

“Acho que vai haver aqui dois momentos: o de exposição montada, porque esta é uma exposição de arte contemporânea, e depois ao longo do tempo de durabilidade, que é grande: o que é que irá acontecer? Será vandalizado ou não, aproveitado ou não aproveitado?”, indaga Sandro Resende.

Já para João Seno, técnico de aplicação de vinis da empresa de publicidade contratada para executar a visão dos artistas, a questão da efemeridade da arte é ainda mais bem-vinda. “Tudo o que é trabalho exposto à rua, como em outdoors, está sujeito a esses vandalismos”, diz à Lusa, para concluir que isso “é bom para a área da publicidade”. “Estragam, nós fazemos mais”, sublinha.

O projecto JAanela vai ser visível em três interiores de carruagens CP das linhas de Braga, Porto e Aveiro e em quatro interiores e um exterior de comboios da linha de Lisboa a partir desta segunda-feira, e até ao final do ano, apesar de a inauguração oficial estar agendada para terça-feira. A CP estima que estas linhas transportem uma média diária de 260 mil passageiros.
 
 

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