Caríssimas Canções de Sérgio Godinho chega a disco e fecha um ciclo de amores cantados

Foi crónicas, livro, espectáculos e agora disco, esta segunda-feira nas lojas. Caríssimas Canções regista o amor de Sérgio Godinho às canções dos outros

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Sérgio Godinho com Caríssimas Canções em palco Egidio Santos

Quando chegou ao palco do CCB, em Maio deste ano, Caríssimas Canções já trazia consigo uma longa história.

Nascera como um conjunto de crónicas, no jornal Expresso, onde Sérgio Godinho explicava o seu amor ou fascínio por canções alheias, que o tinham marcado em diversas fases da vida. Nelas, misturavam-se Doors e Boris Vian, Violeta Parra e José Afonso, Noel Rosa e Tony de Matos, Elvis e Kinks, Beatles e Rolling Stones, Fausto e José Mário Branco, Amália e Peggy Lee, João Gilberto e Robert Wyatt, Lotte Lenya e Bob Dylan, Caetano Veloso e Conjunto António Mafra.

Reunidas, as crónicas deram depois origem a um livro (40 Caríssimas Canções, feito objecto de arte pelas ilustrações de Nuno Saraiva e pelo grafismo de Elisabete Gomes, do Silvadesigners) e depois, devido a um convite do CCB em “carta aberta”, a um espectáculo. Sérgio rodeou-se de um pequeno mas coeso naipe de músicos (Nuno Rafael, dos seus Assessores; e Hélder Gonçalves e Manuela Azevedo dos Clã, esta apenas como instrumentista e não cantora) e estreou em sala a 31 de Maio.

Depois vieram outros palcos, a começar pelo da Casa da Música, no Porto, e Caríssimas Canções foi fazendo rodagem pelo país. Registado em áudio mas não em vídeo, acabou agora por dar origem a um disco com 14 faixas e a um DVD gravado já posteriormente, com mais sete. Sérgio explica: “Como os concertos não foram filmados, fizemos sete canções para o DVD na sala de ensaios do Hélder e da Manuela, sendo que três não estão no disco [Love minus zero, no limits, de Dylan; Sunny afternoon, dos Kinks; e Ora vejam lá, do Conjunto António Mafra].” Uma ausência assumida: “No disco há duas ou três canções excluídas do alinhamento, ou por escolha ou por acharmos que as gravações não eram suficientemente satisfatórias para estarem no disco”, diz Sérgio.

No CD, que começa tal como o espectáculo com A última sessão (única canção de sua autoria que ficou, embora em palco houvesse mais três), há People are strange (Doors), Sampa (Caetano), Conversa de botequim (Noel Rosa), Vendaval (Tony de Matos), Geni e o zepelim (Chico Buarque), Os vampiros (José Afonso), Mother’s little helper (Stones), You’ve got to hide your love away (Beatles), O rapaz da camisola verde (Frei Hermano da Câmara), Volver a los 17 (Violeta Parra), Carinhoso (Pixinguinha), Les vieux (Brel) e Heartbreak hotel (Elvis), onde Sérgio, por entre as palavras torrenciais da canção, mete esta frase em português: “e o porteiro veste um negro fraque”…

Já o DVD procura, em estúdio, recriar alguns dos melhores momentos. “Os Vampiros teria que estar aí, é uma canção poderosíssima e foi daquelas que teve outro tipo de arranjo, outro tipo de olhar. Resolvemos fazê-la com guitarras pesadas, numa versão dura que de certo modo também corresponde aos tempos presentes.” O rapaz da camisola verde, Heartbreak hotel e Carinhoso também tiveram direito a bis.

No som global, Sérgio quis fugir da “cover de bar” e, com concordância dos músicos, acabaram por “descarnar as canções, torná-las mais cruas no sentido da instrumentação, haver qualquer coisa que se afastasse do original embora a canção continuasse lá. É o caso do Vendaval, por exemplo. Ou às vezes mudando o tempo, como é o caso de Sampa, em que a prosódia teve que ser reinventada à medida.”

O resultado, aplaudido em palco, é agora fixado em disco. “Foi um projecto concebido todo ele com muito prazer”, diz Sérgio. “Desde o primeiro prazer que originou as crónicas, o de reouvir estas canções.”
 
 
 

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