Cabide, a revista "ao vivo", quer saber se sabemos tomar conta de nós

A revista do jornalista João Pombeiro e do designer Luís Alegre tem o seu primeiro número entre quinta-feira e domingo, no S. Jorge, em Lisboa.

Foto
Capa da revista Cabide DR

Cabide é uma revista: tem um plano editorial jornalístico e uma posição editorial, mas nada disto é vendido em papel na banca de um quiosque, ou até mesmo online. Nenhum dos seus conteúdos está sequer escrito. Cabide é uma revista "ao vivo", em que as entrevistas, os debates, os ensaios acontecem no palco à frente dos leitores.

Entre quinta-feira e domingo, no Cinema S. Jorge, em Lisboa, o jornalista João Pombeiro e o designer Luís Alegre, directores da revista, apresentam o plano editorial que organizaram para responder à pergunta do primeiro número: “Saberemos tomar conta de nós?” Todas as edições desta revista semestral – o número dois acontece pelo final deste ano – vão ter como ponto de partida uma pergunta que se prende com actualidade. Neste caso, a pergunta é motivada pela saída da troika e pelas eleições europeias. “Apesar da pergunta ter uma origem política, não vamos ter respostas só ao nível político-partidário”, diz João Pombeiro, que sublinha querer uma revista abrangente.

Se, por um lado, a entrevista de Carlos Vaz Marques a Eduardo Lourenço, no domingo, vai “situar-nos: onde estamos, de onde vimos, para onde vamos”, diz o director, por outro, o ensaio É preferível um anjo e uma pedra de Gonçalo M. Tavares, no sábado, “vai provavelmente trabalhar os conceitos desta pergunta e levar-nos para outro universo”.

O logótipo desenhado por Luís Alegre junta um ponto de interrogação com uma chaveta, o que, para além ser uma referência ao jornalismo impresso, resume a ideia de uma mesma pergunta que dá origem a uma variedade de respostas.

O objectivo de João Pombeiro era fundar uma revista, “como deve ser sonho de quase todos os jornalistas”, diz. Quando saiu da Revista Ler no início do ano, já tinha um nome: Cabide, uma revista generalista que “deixasse o leitor pendurado, ou seja, agarrado”. O orçamento para manter uma publicação no seu modelo tradicional era um problema e em conversa com o designer Luís Alegre nasceu a ideia da revista ao vivo, um conceito que pesquisaram, mas que não encontraram em mais lado nenhum. A vantagem, diz o director, está na proximidade entre o leitor e a informação – qualquer espectador pode intervir e questionar directamente.

As sessões que a Cabide apresenta no seu primeiro número diferem, sublinha João Pombeiro, de um festival ou de um ciclo de conferências. As escolhas de programação são por si a tomada de uma posição editorial face ao tema, e isso estará expresso no editorial que vai ser afixado pelo edifício, diz. Além disso, cada sessão quer ser a entrada directa do leitor num artigo jornalístico típico de uma revista, sem as formalidades de uma conferência tradicional – há o artigo de Carla Quevedo com o título Palavras de crise, no sábado, os debates sem moderação de sexta a domingo, e a crónica humorística de Tiago Rodrigues, Carta à despedida da troika, entre outras sessões que nunca são simultâneas para que, comprando um bilhete, o leitor possa assistir a tudo.

Além disto, a revista Cabide tem sugestões culturais associadas ao seu tema. “Tal como as boas revistas oferecem por um preço adicional um CD ou um DVD, temos a sugestão de uma peça e de um concerto”, diz João Pombeiro para falar do espectáculo dos You Can’t Win, Charlie Brown, amanhã à noite no S. Jorge, e da peça com dramaturgia de Pedro Mexia O Lago Constança, em cena no mesmo lugar, de quinta a domingo.

Tal como numa publicação tradicional, uma parte importante do seu financiamento vem dos anunciantes, a outra dos exemplares vendidos, neste caso, a bilheteira. A preocupação dos seus directores é que a presença da publicidade – nas vitrines do S. Jorge e de outras formas mais interactivas, à semelhança do que acontece nos festivais – seja claramente separada do que são os conteúdos da revista.

Sugerir correcção
Comentar