Seis anos de prisão para bailarino que atacou director do Bolshoi com ácido

Tribunal russo condenou Pavel Dmitrichenko, o solista do Ballet Bolshoi responsável por orquestrar o ataque contra o director artístico da companhia em Janeiro.

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Pavel Dmitrichenko, hoje, no tribunal Maxim Shemetov/Reuters

A condenação de Pavel Dmitrichenko, de 29 anos, e dos seus alegados cúmplices era já esperada, depois de o bailarino da prestigiada companhia de reportório russa ter admitido que encomendou a agressão a Filin. É o ponto final de uma novela que rodeia o ataque que deixou Serguei Filin, o muito contestado director artístico do Bolshoi, com graves queimaduras no rosto e praticamente cego.

Os pais do bailarino esperavam uma pena mais leve, segundo a britânica BBC, e os advogados de defesa já admitiram ir recorrer da sentença de seis anos de prisão. O pedido da acusação era de nove anos.

O tribunal ignorou os argumentos do advogado de Dmitrichenko, que sempre alegou que o seu cliente, embora tivesse orquestrado o ataque ao director, nunca quis que fosse usado ácido. O bailarino, que perante as primeiras acusações admitiu que pretendia "assustar" Filin, disse várias vezes que não estava nos seus planos uma agressão tão brutal.
 
Os cúmplices de Dmitrichenko, Yuri Zarutsky e Andrei Lipatov, nomeadamente o homem que atirou o ácido à cara de Fillin e o motorista que os acompanhou, foram condenados, respectivamente, a dez e a quatro anos. Dmitrichenko e Lipatov cumprirão as penas numa prisão de alta segurança enquanto Zarutsky o fará numa prisão de máxima segurança. Os condenados terão ainda que pagar a Fillin uma compensação de 3,5 milhões de rublos (o equivalente a 77.650 euros).

Fillin foi atacado a 17 de Janeiro, quando se dirigia para o carro, à saída do seu apartamento. Corroborando a tese da defesa de Dmitrichenko, Zarutsky disse em tribunal que a ideia de usar ácido fora sua. Lipatov, por seu lado, alegou que não sabia para onde estava a levar o atacante nem para quê. 

O caso que se arrasta há já longos meses tem vindo a trazer a público as rivalidades no Bolshoi, sublinhando ambições, abusos de autoridade e expondo lutas pelo poder que já causaram várias baixas nos corpos artísticos.

Filin, de 43 anos, está longe de ser um director popular, mas depois de mais de 20 intervenções cirúrgicas, já reassumiu funções, tendo apresentado a temporada 2013/2014 da companhia. No entanto, não está ainda a trabalhar a 100% porque os tratamentos, na sua maioria feitos na Alemanha, continuam.

Mais uma demissão

O Teatro Bolshoi, que apesar da remodelação milionária e segundo o seu director administrativo, o recém-nomeado Vladimir Urin, enfrenta “grandes desafios”, tem agora mais um problema para resolver: Vasili Serafimovich Sinayski, director da orquestra principal do teatro, apresentou na segunda-feira a sua “demissão com carácter irrevogável”.

O anúncio da saída de Sinayski foi feito por Urin, que substituiu há bem pouco tempo o todo-poderoso Anatoly G. Iksanov. O maestro agora demissionário assumira funções em 2010, ocupando o lugar de Leonid Dessiatnikov, que apenas ficou no posto um ano. Segundo a agência de notícias EFE, a direcção da orquestra principal do Bolshoi é um dos mais ambicionados cargos da área da música na Rússia.

“Sinayski pediu a demissão e, depois de falar com ele, decidi aceitá-la”, disse Urin à imprensa de Moscovo, aqui citado pelo diário espanhol El País, lamentando a saída do director, situação que se agrava pelo facto de faltarem apenas duas semanas para a estreia da ópera Don Carlo, de Verdi, em que o maestro deveria conduzir a orquestra.

Urin não avançou qualquer explicação sobre os motivos que teriam levado Sinayski a afastar-se.

Também na segunda-feira o director do Bolshoi anunciou que está a ser criado um grupo de trabalho para conceber um programa de reforma do teatro cujo principal objectivo é acabar com os escândalos sucessivos que têm afectado a imagem da instituição. Esse grupo terá de estar formado, no máximo, até dia 19 de Dezembro e terá um mês para apresentar uma proposta de acordo sólido que envolva artistas, técnicos e administrativos da casa.

Esta é a crise mais grave que o Teatro Bolshoi enfrenta desde a sua fundação, em 1776.

 

Notícia actualizada às 15h25, acrescentando mais informações sobre a sentença
 
 
 
 
 
 
 
 

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