Aos 70 anos, os Monty Python voltam ao palco

Terry Jones diz que espera que o espectáculo, a primeira vez que se reúnem em 15 anos, o ajude a pagar a hipoteca da sua casa.

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Terry Jones em Lisboa em 2008 NUNO FERREIRA SANTOS
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Terry Gilliam ANTONIO ALONSo/afp
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Michael Palin Leon Neal/afp
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John Cleese DR
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Os Python em 2009 Lucas Jackson/ REUTERS

Os cavaleiros que dizem "Ni", sempre a olhar para o lado mais luminoso da vida, chegaram a acordo e vão reunir-se para um espectáculo ao vivo. Os Monty Python vão “juntar-se e fazer um espectáculo – é real”, confirmou esta terça-feira à BBC Terry Jones, um dos membros de um dos mais conhecidos, reverenciados e influentes grupos de comédia do século XX.

John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam, Michael Palin e Terry Jones (Graham Chapman, o sexto Python, morreu em 1989) vão dar mais detalhes deste regresso na quinta-feira, dia em que está agendada uma conferência de imprensa para a qual Idle está muito entusiasmado: “Só faltam três dias para a conferência de imprensa dos Python. Certifiquem-se de que todos os fãs dos Python são avisados do grande evento noticioso iminente”, disse segunda-feira no Twitter. Já esta terça-feira, depois de a BBC ter confirmado a notícia junto de Jones, Idle voltou aos tweets para partilhar: “Os Python reúnem-se esta manhã”. “Estou bastante entusiasmado”, disse ainda Terry Jones à BBC. Eespero que nos faça ganhar muito dinheiro. Espero conseguir pagar a minha hipoteca!”.

Este será o primeiro espectáculo ao vivo dos cinco membros remanescentes dos Monty Python desde 1998, quando actuaram nos Estados Unidos, no Aspen Comedy Festival. A conferência de imprensa de quinta-feira, em que os Python devem anunciar o espectáculo de reunião e dar mais detalhes sobre o mesmo, está marcada para o Playhouse Theater, em Londres, onde está em cena o musical Spamalot, de Eric Idle, que partilha temas de um dos emblemáticos filmes da trupe, Monty Python e o Cálice Sagrado.

Meses de negociações
Quando se concretizar este espectáculo, será o culminar de meses de negociações em circuito fechado entre os cinco Python, escreve a imprensa britânica. Segundo o diário Telegraph, a actuação pode dar azo a um filme ou a um programa televisivo, mas não é ainda certo se os comediantes – que há mais de duas décadas se ocupam sobretudo com projectos a solo, como foi o caso do musical Evil Machines, que pôs Terry Jones a trabalhar com o compositor português Luís Tinoco para uma estreia mundial no Teatro São Luiz em Janeiro de 2008, mas também em algumas colaborações entre si – irão levar à cena novo material ou os seus maiores êxitos. Alguns desses êxitos são sketches que ficaram como referência, desde The Knights Who Say Ni, Ministry of Silly Walks ou canções dos seus filmes como Always Look on the Bright Side of Life, que se tornou num êxito na sequência da sua estreia em A Vida de Brian, de 1979.



Pouco tempo depois da sua última actuação ao vivo em conjunto – e que acontecia já 15 anos depois do seu último trabalho, o filme vencedor do prémio do júri em Cannes O Sentido da Vida (1983), os Python estavam prestes a embarcar numa digressão pelos EUA, mas Michael Palin, hoje conhecido também pelas suas séries de televisão ligadas às viagens, abandonou o projecto, deixando o resto do grupo zangado, ou, pelo menos, alguns dos seus membros. Mais recentemente, em 2012, Terry Jones chegou a dizer publicamente que um filme de ficção científica escrito e realizado por si conseguiria o feito de juntar novamente os autores de sketches como Ministry of Silly Walks (da inovadora série televisiva Monty Python’s Flying Circus, que passou no Reino Unido entre 1969 e 1974 e que foi transmitida mundo fora, Portugal incluído). Mas tal também não aconteceu.

Brincar com temas proibitivos
Desde Flying Circus, os Python tornaram-se vozes essenciais da comédia mundial – na década de 1960, acabaram com as punchlines, a piada quase canónica que anuncia com floreados o fim de um número de comédia, tiveram a animação de Gilliam a fazer de marcadores entre os sketches e brincaram com temas que pareciam proibitivos e que levaram pela década de 1970 em diante, do nonsense aplicado à religião à escatologia de Mr. Creosote com o seu chocolatinho de menta que faz transbordar uma refeição lauta. Influenciaram várias gerações de comediantes e tornaram-se numa verdadeira marca de humor traduzida em filmes (Monty Python e o Cálice Sagrado, O Sentido da Vida, A Vida de Brian, Os Gloriosos Malucos À Solta – uma compilação dos melhores episódios de Flying Circus – ou o espectáculo-concerto Os Monty Python em Hollywood Bowl), programas especiais de TV, discos, livros e todo o tipo de material alusivo e coleccionável.

As suas carreiras a solo vão desde a vida de Palin em documentários de viagem até aos filmes realizados por Terry Gilliam (12 Macacos, Delírio em Las Vegas, O Rei Pescador, mas também Brazil, com Michael Palin, ou A Fantástica Aventura do Barão, com Idle), passando pela escrita e actuação de John Cleese (Um Peixe Chamado Wanda, Fawlty Towers e dois filmes de cada uma das sagas James Bond e Harry Potter). Eric Idle foi visto mundo fora em 2012 na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos a cantar Always Look on the Bright Side of Life e assina Spamalot. Terry Jones, que tal como os restantes Python está já na casa dos 70 anos, escreveu peças, argumentos de cinema e apresentou documentários televisivos.

Numa entrevista ao PÚBLICO em 2008, quando Terry Jones se mudou para Lisboa para trabalhar em Evil Machines, o comediante dizia, quando questionado sobre a força da fama dos Python e sobre se se sentia prisioneiro dela, que não o sentia. “Na verdade, ela sempre me possibilitou fazer coisas. E a fama tem sido gradual, estranhamente. Parece maior hoje do que há 30 anos. Não sei o que se passa, mas parece estar num crescendo até agora. Quando estávamos a fazer o programa de televisão, não o sentíamos.”


 
 

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