Aos 105 anos, Manoel de Oliveira continua a querer filmar

Tem música, artes, exposições de jornais, revistas, caricaturas e até um bule de porcelana. Mas falta ainda o subsídio para novo filme na “prenda de anos” para o realizador

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A exposição no Museu Nacional da Imprensa conta a história de Manoel de Oliveira através de jornais e revistas Bárbara Raquel Moreira

A celebração do 105.º aniversário de Manoel de Oliveira começou já no passado dia 6 de Dezembro, com a Casa da Música a dedicar-lhe um concerto da Orquestra Sinfónica do Porto com a 9.ª Sinfonia de Mahler, e que contou com a presença do primeiro-ministro Passos Coelho.

Esta terça-feira, véspera do aniversário – que passa na quarta, dia 11 ­–, os festivais Douro Film Harvest e Shortcutz dedicam-lhe uma homenagem no Edifício Axa, na Baixa portuense, com uma instalação artística colectiva que representa o rosto do realizador criado por pins coloridos numa das salas do 1º piso – o programa incluía também a exibição dos filmes Douro, Faina Fluvial (1931), Famalicão (1940) e A Caça (1964).

No dia do aniversário, o próprio Manoel de Oliveira deverá marcar presença na inauguração da exposição de homenagem no Museu Nacional da Imprensa (MNI), também no Porto.

Com o título Manoel de Oliveira. 105 Revistas – e seguindo a mesmo lógica da exposição que lhe foi dedicada no centenário –, o MNI documenta a obra do realizador através de uma selecção de capas, artigos, notícias, entrevistas, fotografias e anúncios, de revistas como a Vértice, Seara Nova, Cinéfilo, Cineclube, L’Avant-Scène Cinéma e Cahiers du Cinéma, mas também de jornais como o PÚBLICO, Jornal de Letras, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Expresso ou o francês Libération.

Aí se pode fazer um percurso cronológico, que começa em Douro, Faina Fluvial (1931), a primeira-obra do realizador, que foi pateada aquando da sua estreia em Lisboa, mas que foi defendido por figuras como Adolfo Casais Monteiro e José Régio, em artigos nas revistas Movimento e Presença

A viagem continua no anúncio de jornal a assinalar a estreia de Aniki-Bóbó, a 18 de Dezembro de 1942, em Lisboa. E vai pelo tempo adiante, em mais sete décadas de produção, que, até ao final dos anos 1970, foi irregular, e depois se tornou praticamente anual, até O Gebo e a Sombra, a sua última longa-metragem, estreada no ano passado.

A exposição do MNI, instalada no mezanino da sala principal do museu, termina com as capas que o PÚBLICO, o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias dedicaram a Oliveira nos seus 90.º e 100.º aniversários.

“Em síntese – escreve Luís Humberto Marco, director do MNI, no texto de apresentação da mostra –, podemos dizer que a paixão do cinema de Manoel de Oliveira enobrece a imprensa; e que o seu génio ajuda a imprensa a ser mais singular e distinta”.

Em simultâneo com a exposição na sua sede no Freixo, junto ao rio Douro, o MNI promove uma segunda exposição, Manoel de Oliveira no humor mundial, que resulta do prémio especial de caricatura que o museu dedicou ao realizador no PortoCartoon deste ano.

Ainda nesta quarta-feira, Oliveira verá a fábrica da Vista Alegre homenageá-lo com a “edição” de um bule decorado com imagens de Aniki-Bóbó, numa peça desenhada pelo pintor Manuel Casimiro, filho do realizador.


Enquanto se vê alvo de todas estas homenagens, Manoel de Oliveira continua à espera de ver reunidas as condições para avançar com o projecto do seu novo filme, O Velho do Restelo, mas, como o realizador previu, em Novembro, quando foi alvo de uma homenagem na Biblioteca Almeida Garrett, “o aniversário de certeza que ainda vem antes” do subsídio.

 
 
 
 
 

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