Alice Munro já não tem a certeza de que quer deixar de escrever

Após ter anunciado que não voltaria a publicar, a Nobel da Literatura diz agora que continuam a surgir-lhe ideias para novos contos

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Alice Munro fotografada em Dublin, em 2009 PETER MUHLY/AFP

A contista canadiana Alice Munro, que recebeu há duas semanas o Prémio Nobel da Literatura, admite que continuam a ocorrer-lhe ideias para novas histórias e que começa a encarar com alguma ambivalência a possibilidade de se reformar definitivamente da sua carreira de ficcionista.

Munro, que tem 82 anos, afirmara há alguns meses, em declarações ao jornal canadiano National Post, que o livro Dear Life, publicado em 2012, seria muito provavelmente a sua última obra, e que se sentia bastante confortável com a decisão de deixar de escrever. Mas não era a primeira vez que anunciava a retirada e nem todos terão acreditado que desta vez era mesmo a sério. Já em 2006, dissera a um entrevistador: “Não sei se terei energias para continuar a fazer isto”. E continuou a escrever e publicar como antes.

Quando se soube que Alice Munro ganhara o Nobel da Literatura, as suas editoras presentes na feira do Livro de Frankfurt – Kristin Cochrane, da McClelland & Stewart Doubleday Canada, e Beckye Hardie, que publica Monroe no Reino Unido – não se mostraram nada preocupadas com a anunciada reforma da contista. Confrontadas com a declaração da escritora, riram-se e disseram ao PÚBLICO: “Temos de falar com ela”.

Com a publicidade conseguida pelo Nobel a empurrar Dear Life até ao topo da lista de best-sellers de ficção do diário New York Times, ultrapassando As Cinquenta Sombras de Grey, de E. L. James, e Uma Morte Súbita, de J. K. Rowling, Alice Munro disse agora numa entrevista ao Wall Street Journal: “Todos os dias envio a mim própria mensagens contraditórias: prometi retirar-me, mas de vez em quando aparece-me uma ideia”.

A autora falou ainda do envelhecimento, dizendo que a sua memória se ressente da idade, mas que a experiência de envelhecer traz empatia e uma compreensão mais profunda. A obra de Munro centra-se nas comunidades rurais da região sudoeste de Ontário, cenário recorrente dos seus contos. “Não cessa de me interessar, e continuam a ocorrer-me novas coisas acerca dela”, disse a escritora ao Wall Street Journal.

Já a possibilidade de poder vir a deixar textos inacabados ou inéditos quando morrer é um cenário que não lhe parece agradar. “Destruam-nos”, pediu.
 
 
 

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