Acordo Ortográfico: Editoras de ferramentas informáticas divididas sobre necessidade de novos programas

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6 anos é o tempo de transição previsto em Portugal para adaptação do Acordo Ortográfico Nuno Ferreira Santos( arquivo)

As alterações nas ferramentas informáticas para a língua portuguesa que o Acordo Ortográfico vai exigir são motivo de discórdia entre as empresas que as produzem. Umas estão preparadas, embora não concordem com as mudanças, outras preferem não falar no assunto.

"Estamos atentos ao tema, há alguns anos, mas não vamos precipitar-nos, pois o Acordo ainda nem foi ratificado", afirmou Carlos Amaral, um dos administradores da empresa “Priberam Informática”, que tem no mercado ferramentas como o “Flip”, corrector ortográfico e de sintaxe com dicionário de sinónimos e auxiliares de tradução. Amaral acredita que a sua empresa tem capacidade para disponibilizar ferramentas actualizadas "até ao final do ano" e assinalou que estas serão necessárias ainda antes de o Acordo entrar em vigor. "Vai criar-se uma necessidade muito maior deste tipo de produtos logo no período de transição, pelo que o número de utilizadores deverá crescer muitíssimo", assinalou.

O empresário destacou também o facto de em Portugal estar previsto um período de transição de seis anos, “enquanto no Brasil o período deverá ser de apenas dois anos", referindo ainda que a "Priberam" comercializa, em território brasileiro, uma ferramenta linguística com o nome de Aurélio, em consonância com os dicionários impressos. Para Carlos Amaral "pode até fazer sentido criar dois correctores - um para o período de transição e outro para depois de o Acordo entrar em vigor - tanto para Portugal como para o Brasil".

O administrador da “Priberam Informática” assinalou ainda que, "como o Acordo não vai estabelecer uma forma única, exclusiva, de escrever o português, os novos programas terão de permitir a personalização por parte do utilizador e a fidelização de termos, para que não surja, num texto, uma mesma palavra com grafias diferentes". Carlos Amaral descreveu os futuros programas, como “um produto informático flexível mas cuja base seja clara, de modo a não confundir o utilizador, pois este tipo de ferramentas serve para esclarecer dúvidas, não para as agravar”. Carlos Amaral revelou ainda que outra das possibilidades em estudo é a de "os novos programas permitirem que um texto em português actual possa ser convertido automaticamente para o português do acordo".

Para a Porto Editora, o Acordo é “uma penumbra que vai cair sobre a língua portuguesa",

Atenta ao Acordo Ortográfico está também a “Porto Editora”, que disponibiliza em CD-ROM a linha "PROfissional", onde se incluem o Dicionário da Língua Portuguesa, os Dicionários de Português-Inglês e Inglês-Português e os de Português-Francês e Francês-Português. "Estamos preparados para alterar as ferramentas à sombra do Acordo e digo à sombra e não à luz porque o Acordo é uma penumbra que vai cair sobre a língua portuguesa", afirmou Paulo Gonçalves, do gabinete de comunicação da Porto Editora. Assegurando que "a base de dados da editora está a postos" e que as hipóteses cobertas pelo Acordo "já estão previstas", o responsável adiantou que "a Porto Editora tem sempre uma equipa de 12 linguistas a trabalhar a tempo inteiro e em parceria com os programadores informáticos".


A data de lançamento dos novos produtos ainda não se conhece, porém Paulo Gonçalves assegurou que se o Acordo avançar, em menos de seis meses terão as ferramentas no mercado.O responsável descreve esse processo de mudança como "tranquilo e gradual", salientando que "tudo vai depender da procura que se registar e isso só pode ser analisado no momento". "Quase todos consideram que o acordo é um disparate, embora também tenham consciência da sua inevitabilidade", revelou.

Para a editora Verbo o acordo "não é uma preocupação"

Quanto à “Verbo”, o director editorial, João Miguel Guedes, revelou que o acordo "não é uma preocupação". "Ainda nem se sabe se ele sempre entra em vigor e quando é que os professores vão ensinar a nova grafia aos alunos", assinalou. "A Editorial Verbo tem no mercado uma enciclopédia em CD-ROM e não tenciona mudá-la tão cedo", assegurou.


A "Texto Editora" ainda não tomou nenhuma decisão sobre medidas a tomar, tendo Susana Almeida, do gabinete de imprensa do grupo “Leya” (a que a Texto pertence desde 2007), informado que "a questão ainda está a ser perspectivada".

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