A morte de Carlo Lizzani, realizador, actor, argumentista, crítico, homem do cinema

O realizador de Banditi a Milano cometeu suicídio sábado. Tinha 91 anos.

Foto
Carlo Luzzani em Roma, a sua cidade, em 2010 AFP / TIZIANA FABI

O seu amigo Mario Monicelli suicidou-se a 29 de Novembro de 2010, saltando da janela do Hospital San Giovanni, em Roma, onde dera entrada dias antes para tratamento a um cancro na próstata. Sábado, Carlo Lizzani, realizador, argumentista, actor, “homem do cinema”, resumia o La Reppublica, escolheu o mesmo fim. Aos 91 anos, o realizador de Banditi a Milano, saltou da varanda do terceiro andar que habitava em Roma.

Enquanto o presidente italiano Giorgio Napolitano, citado pela AP, destacava a contribuição de Lizzani para "o cinema, a cultura e o desenvolvimento democrático do país”, o realizador Ettore Scola declarava simplesmente “este é um momento de grande tristeza”. Paolo Baratta, presidente da Biennale, destacou a forma como Lizzani deu nova vida ao Festival de Veneza durante os anos (de 1979 e 1982) em que foi seu director. “Ele soube como criar um núcleo de jovens estudantes e especialistas que representariam no futuro a verdadeira elite. O mundo do cinema italiano deve-lhe muito”, cita a AP.

Nascido em Roma a 3 de Abril de 1922, Lizzani iniciaria a sua actividade após o final da II Guerra Mundial. Estreia-se como actor em 1946 em Il Sole Sorge Ancora, de Aldo Vergano, filme de guerra, e cinco anos depois como realizador de ficção, imerso no espírito e estética neo-realista, em Achtung! Banditi!, história de resistência (em tempos de guerra, naturalmente). A sua filmografia contabiliza mais de sessenta títulos, entre os quais se destacam Banditi a Milano, que lhe valeu em 1968 a distinção de Melhor Realizador atribuída pela Academia Italiana do Cinema, ou Celluloide, obra de 1996 que se debruça sobre a criação de Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rosselini (a academia italiana distinguiria novamente Lizzani, desta vez pela assinatura do argumento).

O La Repubblica recuperava sábado uma entrevista em que Lizzani afirmava: “A minha vida tem sido ao serviço do cinema”. Assim, acrescentava, se serviu também dele para conhecer o seu país, "o mundo, a História, o século XX”. Militante do Partido Comunista Italiano até 1957, manteve-se sempre um homem de esquerda, questionador do passado que conheceu e curioso pelo país que o rodeava.

Começou como crítico de cinema, foi depois actor, argumentista (para Rosselini em Germania Anno Zero, 1948, por exemplo), realizador (ainda em 1948 dirige um documentário sobre o líder do Partido Comunista Italiano, Palmiro Togliatti). Ao longo da sua extensa carreira trabalhou também com nomes como  Jean-Luc Godard, Marco Bellochio ou Pier Paolo Pasolini. O seu último filme, Hotel Meina, chegou às salas em 2007.

Sugerir correcção
Comentar