Design of the Year: a Internet política bateu as cadeiras, as rodas e o cinema

Design of the Year Award entregue ao portal do Governo britânico, batendo a cadeira Medici de Konstantin Grcic ou o documentário The Eye Has to Travel, entre outros projectos.

A Internet política bateu as cadeiras, os prédios, as rodas e o cinema

O lúdico perdeu, o sério e funcional venceu. O portal do Governo britânico Gov.uk é o melhor exemplo de design do ano para o Design Museum de Londres, o mais importante museu de design industrial e arquitectura do mundo. O designer Ben Terrett, do Serviço Digital do Governo, desenhou um site que agrega todas as páginas do Governo britânico num só espaço e agora é tão a sério que o primeiro-ministro David Cameron é o primeiro a felicitar o vencedor. E a postular: “Este Governo está empenhado em ser o Governo mais transparente do mundo.”

A retórica de Cameron há muito que toca o tema da transparência: desde tornar públicos todos os gastos do Governo acima de 25 mil libras (anúncio de 2010 que está no YouTube) até às linhas de acção da presidência do Reino Unido do G8 este ano, passando por, claro está, as suas ideias quanto ao serviço prestado pelo site gov.uk quando foram publicadas listas dos crimes ocorridos no país. Agora, foi premiada no campo do design. Em Março, a simples nomeação na categoria Digital do site do governo britânico gerou surpresa, com o diário britânico Telegraph a perguntar candidamente: “a sério?”.

Entre os 99 candidatos em sete categorias (arquitectura, mobiliário, digital, gráfico, moda, produto e transporte), cujos vencedores foram anunciados na semana passada, para esta terça-feira ser anunciado o melhor dos melhores, estavam nomes sonantes e produtos com potencial de se tornarem ícones ou utilitários. A variedade era então vasta o suficiente para contemplar candidatos tão díspares quanto projectos arquitectónicos de Renzo Piano (o novo arranha-céus de Londres, The Shard) ou rodas dobráveis para cadeiras de rodas e bicicletas. Entre elas, dois candidatos portugueses - o projecto de recuperação do Teatro Thalia, do atelier de Gonçalo Byrne e de Barbas Lopes Arquitectos, e a identidade visual do festival DocLisboa, de Pedro Nora. Os portugueses não passaram da eliminatória da eleição por categoria, que seleccionou antes a recuperação da Tour Bois-le-Prêtre (Paris) e a identidade gráfica da Bienal de Arquitectura de Veneza. 

Mas se os 99 nomeados se perfilavam como uma colecção heterogénea em que não era possível identificar uma "tendência no design", os vencedores de cada categoria permitiam já antever que o júri encabeçado pela designer Ilse Crawford, autora dos interiores do Soho House Group, por exemplo, valorizava a utilidade e funcionalidade. A escolha final acabou por ser política e digital. E foi unânime entre os membros do júri, que escolheu um site que considera ser “revolucionário”.

O director do Museu do Design de Londres diz em comunicado que o gov.uk é “o Paul Smith dos sites”, uma referência ao designer de moda britânico conhecido pela sua abordagem criativa e elegante às peças do quotidiano. Destaca o tipo de letra usado, o Gill Sans, limpo e sem serifas, uma actualização do typeface desenhado nos anos 1960 por Margaret Calvert, “elegante e subtilmente britânico”, como descreve Deyan Sudjic. Mas o que sobressai do resultado desta eleição é mesmo a sua mensagem: para o responsável do museu, o site “é um reflexo do entendimento do Governo sobre como comunicar com o país de uma forma que funciona”.  

O primeiro-ministro e líder do Partido Conservador David Cameron faz por seu turno o elogio ao site como “mais um exemplo do talento do design britânico de nível mundial a sobressair no palco global”, frisando que a página “ajuda a melhorar a relação moderna entre o público e o Governo”. Um dos membros do júri, o escritor, actor e apresentador de televisão galês Griff Rhys Jones, diz na mesma nota distribuída à imprensa que entre tantos candidatos – e de áreas tão diferentes -, “no final o gov.uk era o claro vencedor. É um voto de confiança na ideia de que o Governo pode estar à frente com design simples e inteligente”.

Estes prémios estão entre os mais importantes galardões britânicos para o design nas suas várias vertentes (tocando desde o digital ao visual, passando pelo design de produto, mas também premiando a arquitectura) desde que o Design Council, dedicado à valorização do design made in Britain, fechou as portas. No ano passado, o vencedor foi o design da tocha olímpica dos Jogos de Londres 2012, de Edward Barber e Jay Osgerby, antecedidos pela lâmpada Plumen 001, de Samuel Wilkinson para a Hulger, e, também entre os mais recentes, o poster de Barack Obama do designer gráfico, ilustrador e street artist Shepard Fairey (2008).

 


Barack Obama x Z-Trip x Shepard Fairey x Fresh Pressed from chumpchampion on Vimeo.
 
 
 

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