O Dia dos Namorados está a chegar e será o que se sabe. Juras de amor inscritas em ursos de peluche, jantares românticos à luz de velas ou dos néons de centro comercial, flores entregues no local de trabalho por homens adultos vestidos de cupido (é o que nos diz Hollywood) e olhares cúmplices trocados enquanto se ouve aquela canção, oh e se não fosse ela, não estávamos aqui hoje os dois.

Every breath you take, dos Police, assinale-se, será sempre mau sinal de partida. Sting já explicou que, nela, fala de alguém cuja obsessão o leva a uma perseguição doentia. É, portanto, uma canção sobre stalkers. Ora, dado que se estima que mais de 80% das canções escritas versam o tema universal do amor, sobra muito por onde escolher. Deixamo-vos uma gota no oceano das canções a ele dedicadas. 20. Para juntar aos peluches, às juras, aos jantares, às flores e aos olhares cúmplices.

Fever – Peggy Lee

Uma das canções mais elegantemente sensuais da história. Temperatura escaldante. Febre, de facto: "You give me fever when you kiss me / Fever when you hold me tight / Fever in the morning / A fever all through the night."

Let’s do it let’s (fall in love) – Cole Porter

Ninguém escapa ao amor e Cole Porter tratou de o demonstrar em canção, preto no branco, para que não restem dúvidas: "Birds do it, bees do it / Even educated fleas do it / Let's do it, let's fall in love."

My girl – The Temptations

O amor é uma coisa muito bonita. O amor dá superpoderes. Os Temptations, apaixonados, são imbatíveis. Confira-se: "I've got so much honey the bees envy / I've got a sweeter song than the birds in the trees / I guess you'd say / What can make me feel this way / My girl / Talking 'bout my girl." 

Be my baby – Ronettes

A sofisticação da canção abriu um novo capítulo na história da pop. E eternizou o mundo perfeito dos romances acabados de nascer. Assim: "I'll make you happy, just wait and see / For every kiss you give me / I'll give you three / Since the day I saw you, I have been waiting for you / You know I will adore you 'til eternity."

Chega de saudade – João Gilberto

A voz de João Gilberto, a canção de António Carlos Jobim. A saudade é coisa bonita, quando dela nascem estas promessas:  "Dentro dos meus braços / Os abraços hão de ser milhões de abraços / Apertado assim, colado assim, calado assim / Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim / Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim",

Tous les garçons et les filles – Françoise Hardy

E eis que uma canção de lamento por solidão adolescente se transforma em banda sonora para a ingenuidade e ternura do amor que há-de chegar. Porque tem de chegar: "Mes jours comme mes nuits / Sont en tous points pareils / Sans joies et pleins d'ennuis / Personne ne murmure 'Je t'aime' à mon oreille."

God only knows – The Beach Boys

É a mais perfeita canção dos Beach Boys. É a canção preferida de Paul McCartney. Não temos mais nada a acrescentar. Quase nada: "If you should ever leave me / Though life will still go on believe / The world could show nothing to me / So what good would living do me / God only knows what I'd be without you."

I’ve been loving you too long – Otis Redding

Otis Redding nunca chegou aos 30 anos, mas cantava com a sabedoria de quem sabia tudo sobre a vida. E sabia. O título da canção é só para despistar. Otis "Love Man" Redding tinha um coração imenso:"I've been loving you a little bit too long / I don't wanna stop now / No, no , no."

Só nós dois – Tony de Matos

O amor como alienação rebelde perante as convenções. Todo o universo concentrado em duas pessoas, em dois corpos. O grande Tony de Matos: "Que falem não nos interessa / O mundo não nos importa / O nosso mundo começa / Cá dentro da nossa porta."

Je t’aime moi non plus - Serge Gainsbourg & Jane Birkin

Canção escândalo em meados do século passado. Canção sexo. Canção auto-explicativa. Gainsbourg a assegurar a continuidade da espécie: "Oh mon amour / Tu es la vague, moi l'île nue / Tu vas, tu vas et tu viens / Entre mes reins."

Something – The Beatles

No início, Frank Sinatra achava os Beatles cabeludos sem talento que faziam uma barulheira insuportável.  No fim, chamou a Something uma das mais belas canções de amor jamais escritas. Frank sabia do que falava: "Something in the way she moves / Attracts me like no other lover / Something in the way she woos me / I don't want to leave her now / You know I believe and how."

Let’s stay together – Al Green

Sempre que alguém pensar em compor uma canção de amor, terá de passar pelo crivo de Al Green. Valerá a pena compor mais alguma depois disto?: "Oh tell me why, why, why / Why people break up, turn around and make up / I can't see you never, never, do that to me." 

A noite passada - Sérgio Godinho

Um doce embalo em paisagem surreal, o mundo em aberto à espera de um reencontro. Tudo na voz, na melodia, nas palavras de Sérgio Godinho: "A noite passada acordei com o teu beijo / Descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo / Vinhas numa barca que não vi passar / Corri pela margem até à beira do mar."

Minha mulher – Caetano Veloso

A adolescência não é para aqui chamada. Isto é matéria adulta cantada por Caetano, que, sendo Caetano, a canta como encantamento irresistível:  "Quem vê assim pensa que você é muito minha filha / Mas na verdade você é bem mais minha mãe / Meu bichinho bonito / Tudo é mesmo muito grande assim / Porque Deus quer / Minha mulher".

Fade into you – Mazzy Star

Podia ser melancolia insuportável, mas os Mazzy Star são milagrosos. Transformam melancolia em entrega, em (podemos dizê-lo?) ternura: "I want to hold the hand inside you / I want to take a breath that's true / I look to you and I see nothing / I look to you to see the truth."

I feel love – Donna Summer

O jantar romântico já acabou, as velas já se apagaram. Luzes, câmara, acção. Oito minutos de sedução. A letra minimal mais maximal de sempre: "You and me / You and me / You and me / You and me / Oooh / I feel love / I feel love / I feel love / I feel love."

More than this – Roxy Music

Um cantor de charme e uma balada com a pompa necessária para trazer à memória um palavrão como "slows". Dado o romantismo acetinado do conjunto, até esquecemos a ambiguidade do que se canta: "More than this you know there's nothing / More than this, tell me one thing / More than this, there is nothing." 

Crazy in love – Beyoncé

O romance como festa glamorosa e demonstração de poder. Ou, como diria alguém, uma força que ninguém pode parar: "When I talk to my friends so quietly / 'Who he thinks he is?' Look at what you did to me / Tennis shoes, don't even need to buy a new dress / If you ain't there ain't nobody else to impress."

Canção Sentimental - Diego Armés

O desejo é uma necessidade. Precisamos dele porque viver é preciso. Mas viver simplesmente é pouco. Diego Armés explica: "Quero ser embalado nos braços que assim / Me acabem com a solidão / E acabem com a solidão."

Will you love me? – Matthew E White

Tudo vivido, pensado e ponderado, regressamos sempre ao início. Dia após dia. Existem mil canções de amor, mas poucas o explicam tão bem. Começa na pergunta em título. Acaba aqui: "Darkness can't drive out darkness / Only love can do that."