Receitas geradas pela indústria musical crescem pela primeira vez desde 1999: "O digital está a salvar a música"?

Falamos de um crescimento de apenas 0,3% e de um valor global de negócio de 12,5 mil milhões euros (era de 21,2 mil milhões em 1999), mas crescimento é crescimento.

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Uma das faces do “renascimento”: Adele. REUTERS/Danny Moloshok

E eis que ouvimos a indústria musical afirmar aquilo que, até há alguns anos, seria impensável: “O digital está a salvar a música”. A declaração é de Edgar Berger, executivo da Sony Music Entertainment, e foi feita terça-feira, dia em que a International Federation of the Phonographic Industry (IFPI) anunciou que as vendas globais de música registaram a primeira subida desde 1999, data em que nasceu a plataforma de partilha de música Napster.

Falamos de um crescimento de apenas 0,3% e de um valor global de negócio de 12,5 mil milhões de euros (era de 21,2 mil milhões em 1999), mas crescimento é crescimento. Este foi fortemente apoiado nas receitas geradas pela música em formato digital, quer através dos serviços de streaming, quer através dos downloads legais. “A indústria tem todas as razões para se sentir optimista em relação ao futuro”, apontou Berger, citado pela Billboard.

Como faces do “renascimento” surgem Adele, Taylor Swift e a boys band One Direction. São deles os álbuns mais vendidos de 2012 com números de, respectivamente, 8,34 milhões (21), 5,2 milhões (Red) e 4,5 milhões (Up All Night). Quanto a singles, destacam-se Call me maybe, de Carly Rae Jepsen (12,5 milhões), Somebody that I used to know, de Gotye (11,8 milhões) e o fenómeno Gangnam style, de Psy (9,7 milhões).

Em 2012, enquanto as vendas em formato físico continuavam em queda (três por cento de 2011 para 2012), o mercado digital cresceu 9%, passando a contabilizar 34% do total de receitas. Neste âmbito, as maiores esperanças da indústria centram-se em serviços de streaming como o Spotify, o Rhapsody, a Pandora ou o português Music Box, que a IFPI divulgou terem registado um crescimento de 44% em número de subscritores, contabilizando agora 20 milhões globalmente. Isto, a par do anúncio de novos serviços da Apple e da Google, do crescimento dos existentes em mercados emergentes, como o Anghami no Médio Oriente, ou do anúncio de planos do francês Deezer para a instalação em 100 países, permite que o optimismo seja, por agora, reinante.

Apesar de em alguns daqueles que a IFPI classifica como mercados emergentes, como Rússia ou China, a pirataria impedir um crescimento mais notório, o facto de em países como os Estados Unidos, Índia, Noruega e Suécia, como aponta o New York Times, as vendas digitais representarem já mais de metade das receitas globais permite que Frances Moore, da IFPI, declare: "É claro que 2012 colocou a indústria fonográfica no caminho da recuperação. Há um entusiasmo palpável no ar que não sentia há muito tempo”.

Para além dos serviços de streaming e de venda em formato digital, outros dados sustentam a possibilidade de estarmos perante o início de um renascimento da indústria. Os direitos sobre actuações cresceram 9,2% em 2012. Representam agora 6% do total de receitas (em 2011, a percentagem era de 3%). "Se há uma lição a tirar, ela é provavelmente a de que, quanto mais cedo se abraçarem novos serviços e modelos de negócio, melhor". Provavelmente.
 

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