Arquitectos portugueses recebem três dos 14 prémios do ArchDaily

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A capela Árvore da Vida, em Braga, a sede da Associação Fraunhofer, no Porto, e a casa pré-frabricada e modular Mima House daniel rocha

Criado em 2008 por dois jovens arquitectos chilenos, o ArchDaily é o hoje o site de arquitectura mais visitado

Repetimos a façanha de 2010 e, assim, a arquitectura portuguesa voltou a ganhar em três das 14 categorias que integram os prémios anuais atribuídos pelo site ArchDaily. A capela Árvore da Vida, projectada para o Seminário de Braga pelos irmãos António Jorge Fontes e André Fontes, do atelier bracarense Cerejeira Fontes, venceu ontem o prémio ArchDaily de 2011 na categoria de Arquitectura Religiosa, a Mima House, uma construção pré-fabricada concebida pela empresa de Mário Sousa e Marta Brandão, dois arquitectos que se dividem entre Viana do Castelo e a Suíça, ganhou no capítulo das Casas, e o gabinete Pedra Silva, de Lisboa, recebeu o prémio de Interiores com o projecto que desenhou para a sede da delegação portuense da Associação Fraunhofer, um dos maiores centros europeus de investigação aplicada.

Os prémios, escolhidos pelos leitores do site, já tinham distinguido, em 2010 o edifício da Vodafone no Porto, na categoria de Arquitectura Institucional, o bar temporário que a Faculdade de Arquitectura do Porto criou para a Queima das Fitas, no sector de Hotéis e Restaurantes, e a Closet House, em Matosinhos, vencedora do prémio para Interiores.

Este ano, além dos edifícios premiados, a arquitectura portuguesa teve ainda mais 11 nomeações, incluindo a Casa das Histórias - Museu Paula Rego, de Souto de Moura, em Cascais, que perdeu, na categoria de Museus e Bibliotecas, para o Museu do Oceano e do Surf, um projecto do atelier Steven Holls Architects construído em Biarritz, na França.

Uma das particularidades destes prémios é a coexistência de arquitectos emergentes, e por vezes sem qualquer reconhecimento internacional, e de verdadeiras estrelas da arquitectura mundial, como o holandês Rem Koolhaas, um dos vencedores deste ano com o edifício que desenhou para a Escola de Arquitectura da Universidade de Cornell, no estado de Nova Iorque.

Criado em 2008 por dois jovens arquitectos chilenos - David Assael e David Basulto -, o ArchDaily é hoje possivelmente o site de arquitectura mais visitado na Internet, com uma média de 200 mil visitas diárias, 350 milhões de páginas visitadas em 2011 e meio milhão de seguidores no Facebook. Começou por ser uma espécie de fórum para discussão de questões urbanísticas chamado Plataforma Urbana, ao qual se seguiu o Plataforma Arquitectura, a versão original, em língua espanhola, do ArchDaily, que lançou já uma versão experimental em língua portuguesa: o ArchDaily Brasil.

Os prémios anuais são apenas uma das componentes do ArchDaily e funcionam um pouco à semelhança dos programas televisivos de descoberta de talentos: os candidatos são escolhidos por um painel de especialistas, que nomeia cinco finalistas em cada uma das 14 categorias, mas os vencedores são depois eleitos directamente pelos leitores. Desta vez votaram 65 mil pessoas nesta fase final, contra pouco mais de 30 mil em 2010.

Se a divulgação das obras premiadas em cada ano é um momento especialmente mediático, o sucesso público do ArchDaily também se prenderá com o facto de o site se ter tornado numa verdadeira base de dados da arquitectura que se está a fazer no mundo.

Uma das consequências da diversidade de votantes é o próprio ecletismo dos prémios, nos quais não é fácil pressentir um padrão de gosto. Se a Mima House, uma pequena casa disponível em versões de 18 e 36 metros quadrados, feita de madeira maciça - grandes superfícies de vidro e paredes interiores que se podem mudar de sítio através de um sistema de calhas -, pode fazer pensar no despojamento e funcionalidade da arquitectura japonesa, já o projecto que venceu na categoria de Hotéis e Restaurantes - o edifício do restaurante Tori Tori, na Cidade do México - aposta claramente num estilo mais decorativo e barroco.

E se o interior da sede da Fraunhofer no Porto, concebida pelo atelier do arquitecto Luís Pedra Silva para o Parque da Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, se adapta, com o seu estilo futurista, à investigação de ponta que ali se pratica, já o grande mérito do vencedor da categoria de Arquitectura Pública, uma ponte pedonal em Halsteren, na Holanda, é a sua invisibilidade: à tona da água vêem-se apenas dois pequenos muretes, já que o piso está submerso.

Já a capela Árvore da Vida é um projecto singular, desde logo pelo modo como se foi construindo, em estreito diálogo com os padres e seminaristas da casa, e contando com a colaboração dos escultores Asbjörn Andresen e Manuel Rosa, da pintora Ilda David, cujo tríptico Árvore da Vida deu nome à capela, o organeiro Pedro Guimarães, o fotógrafo italiano Eduardo di Micceli e o engenheiro civil Joaquim Carvalho.

Construída com 20 toneladas de madeira, a obra não utiliza qualquer prego ou ferragem, mas apenas os encaixes das traves.

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