O velho do Natal

Há um mito sobre a invenção da imagem do Pai Natal pela Coca-Cola, algures nos confins do século XX. A famosa marca de refrigerantes consolidou a imagem de um velho bonacheirão de barbas brancas, rotunda pança e uniforme vermelho orlado a peliça branca, em 1931, com a encomenda de uma série de ilustrações a Haddom Sundblom. Mas a iconografia standard da personagem foi na realidade criada pelo caricaturista americano Thomas Nast, no longínquo ano de 1863. Nast desenhou um cartoon para a revista Harper"s Weekly onde mostrava um anafado Santa Claus distribuindo presentes a crianças e soldados num acampamento militar durante a Guerra Civil Americana. Nast e Sundblom inspiraram-se no célebre poema de Clement Moore A Visit From St. Nicholas, de 1822. A figura do Pai Natal tem uma curiosa aparição em Portugal, num álbum para crianças com texto e ilustrações de Menezes Ferreira, edição das Livrarias Aillaud-Bertrand, em 1924. No enredo de Um Conto de Natal, João e Maria, filhos de pobres lenhadores, regressam à pobre choupana onde vivem, deslumbrados com as maravilhas que tinham visto na loja de brinquedos na cidade próxima. Acreditando na história do Velho do Natal, adormecem junto a um pinheiro, aconchegados um ao outro e sonham com a árvore decorada com brinquedos. Acordam sobressaltados para a dura realidade de um pinheiro nu, na desolada paisagem onde neva sem cessar. A história tem final feliz pois o Velho do Natal, que ainda não era Pai de ninguém e distribuía os brinquedos acompanhado por um petiz de vestes diáfanas chamado Menino Jesus, visita os lenhadores carregando uma enorme saca de brinquedos. João Menezes Ferreira (1889-1938), capitão de infantaria, governador da Madeira e governador militar das então colónias de Angola e Moçambique, participou nos salões do Grupo dos Humoristas e publicou em 1919 um álbum com impressões humorísticas sobre o quotidiano do Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial, João Ninguém, Soldado da Grande Guerra. O seu Velho do Natal, ainda sem a bonomia estereotipada do way of life americano, apresentava-se já com os atributos essenciais que hoje todos reconhecemos como parte integrante da nossa tradição cultural.

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