Estudo sugere necessidade de redefinir parâmetros de qualidade do ar

Um estudo médico demonstra uma associação entre presença de partículas poluentes de diâmetro inferior ou igual a 2,5 micrómetros (um milímetro são mil micrómetros) e o aumento significativo de entradas em hospitais por problemas cardiovasculares e respiratórios, em doentes com mais de 65 anos. Os três autores do estudo, da Universidade de Johns Hopkins, nos EUA, consideram que os resultados desta análise, representativa do período entre 1999 e 2002, substanciariam uma alteração à Lei Nacional (norte-americana) de Standards para a Qualidade Ambiental do Ar. Os resultados, foram publicados hoje na revista científica Journal of the American Medical Association.
Sabe-se que a exposição a partículas sólidas em suspensão no ar, associada nos centros urbanos ao tráfego rodoviário e, principalmente, aos veículos a gasóleo, causa problemas de saúde: as partículas provocam lesões e inflamações nos tecidos respiratórios e estão associadas a problemas cardiovasculares (cuja causa, mais indefinida, serão inflamações e, provavelmente, alterações no sistema nervoso).
Partículas mais pequenas chegam mais facilmente aos pulmões, e por isso causam mais danos. Esta constatação levou a que, na revisão de 1997, os EUA tenham introduzido, a concentração de partículas de 2,5 micrómetros (PM2,5) como indicador de qualidade ambiental do ar. Mas o standard de qualidade continuou a ser definido pela concentração de partículas de 10 micrómetros (PM10).
O estudo, baseado em 11,5 milhões de entradas em hospitais de 204 freguesias urbanas, sugere que este padrão deve agora ser redefinido, para concentrações de PM2,5 - como aliás, recomenda a Organização Mundial de Saúde.
Na União Europeia, está em debate uma alteração semelhante, com decisão prometida até ao fim do ano. Portugal não tem sequer conseguido manter os parâmetros de qualidade europeus (e por isso foi apresentada uma queixa contra o país no Tribunal Europeu).
O Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Universidade Nova de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian avaliaram a qualidade do ar utilizando concentrações de PM2,5, para além das de PM10, a publicar dentro de três meses. Os efeitos são avaliados relacionando períodos de maior concentração destas partículas, desde 1995, com a mortalidade e entrada de crianças no Serviço de Urgências do Hospital D. Estefânia.
Como explicou Francisco Ferreira, coordenador do estudo, "o problema maior é que não há um valor mínimo de concentração isento de consequências para a saúde: mesmo aos valores limite estão associados incrementos de morbilidade e mortalidade. Por isso é importante definir estes incrementos, monitorizando as emissões", e tentar também reduzi-las: prevenir continua a ser melhor que remediar. Filipa Vala

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