Cientistas apontam solução para travar o desaparecimento dos abutres no Sul asiático

A proposta passa por substituir fármaco veterinário que está a matar uma ave com a tarefa de limpar os campos dos cadáveres

Um fármaco usado no tratamento de gado no Sul da Ásia está a conduzir à extinção três espécies de abutres. Agora, uma equipa internacional de investigadores descobriu uma alternativa a esse fármaco, que pode ajudar a preservar os abutres, segundo revela num artigo científico publicado anteontem. Este anúncio surgiu no mesmo dia em que na Índia se iniciou um encontro dedicado à preservação desta ave de rapina.A ingestão da carcaça de animais tratados com diclofenaco, um anti-inflamatório e analgésico comum na Índia para fins veterinários, provocou nos últimos 15 anos a morte de 97 por cento dos abutres daquela região.
Num estudo publicado na revista Public Library of Science Biology (em http://www.plosbiology.org), o grupo de cientistas, que inclui especialistas da África do Sul, Namíbia, Índia e Reino Unido, diz ter descoberto que um outro fármaco, o meloxicam, pode ser uma alternativa segura. A droga tem os mesmos efeitos do diclofenaco, mas, desde que mantida dentro de certos limites, é inofensiva para a população de abutres.
Contudo, os investigadores receiam que a solução possa não ter chegado a tempo. "As populações de abutres estão a desaparecer tão depressa que pode ser demasiado tarde para os salvar, a não ser que se tomem medidas imediatas", frisou um dos autores do estudo, Ryhs Green, biólogo na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Já em Março de 2005, o Governo indiano tinha anunciado a intenção de pôr fim ao uso do diclofenaco, cujos efeitos nocivos só foram detectados há dois anos. Mas, na altura, não foi encontrado um medicamento que fosse simultaneamente eficaz no tratamento do gado e seguro para os abutres.
No entanto, a equipa de cientistas, coordenada por Gerry Swan, da Universidade de Pretória (África do Sul), defende que a substituição do fármaco não é suficiente e que deve ser também fomentada a procriação em cativeiro das espécies ameaçadas. Existem já dois centros de procriação, que pretendem libertar as aves assim que o diclofenaco esteja completamente removido da cadeia alimentar.
Para além do impacte ecológico, os cientistas alertaram ainda para a importância dos abutres na saúde pública, uma vez que ajudam a eliminar as carcaças de gado (na maioria das vezes deixadas ao ar livre), contribuindo assim para a redução da propagação de doenças. Ao alimentarem-se de cadáveres, os abutres evitam que outros animais fiquem doentes e impedem a contaminação dos lençóis de água.
As três espécies de abutres ameaçadas - os grifos Gyps bengalensis, Gyps indicus e Gyps tenuirostris - só existem no subcontinente indiano, sobretudo no Paquistão, Nepal e Índia. Neste país, têm vindo a desaparecer a um ritmo anual entre os 22 por cento e os 48 por cento. A população de Gyps bengalensis, considerada nos anos 80 a ave de rapina de grande porte mais comum no mundo, está agora reduzida a um por cento.

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