Vírus VIH ressurgiu em dois homens que fizeram transplante de medula óssea

Depois de terem interrompido o tratamento com antirretrovirais, ambos os homens voltaram a apresentar níveis detectáveis do vírus no sangue.

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Vírus da sida a sair de uma célula infectada AFP/Instituto Pasteur

O vírus da sida tornou a mostrar-se no organismo de dois homens que tinham recebido transplantes de medula óssea no Hospital Women and Brigham’s de Boston, revelou há dias Timothy Henrich, o médico que os tem acompanhado naquele hospital norte-americano.

Os dois homens, seropositivos há 30 anos, tinham sido transplantados, respectivamente em 2008 e 2010, porque tinham desenvolvido linfomas (cancros do sangue). E como oito meses mais tarde não apresentavam sinais do vírus da sida, a equipa médica decidira interromper os tratamentos com antirretrovirais contra o VIH que estavam a fazer, esperando que o transplante de medula óssea tivesse tido um efeito neutralizante definitivo sobre o VIH. Os doentes pararam o tratamento na Primavera e os seus níveis de VIH foram sendo monitorizados a cada sete a dez dias.

Mas aquilo que muitos especialistas quase acolheram como uma “cura” no último congresso internacional da sida, em Julho, afinal não o era. Há uns dias, Henrich emitiu um comunicado anunciando os “decepcionantes” resultados em relação a esses dois homens. O VIH voltou a ser detectável no organismo de um deles em Agosto e no do outro em Novembro.

Porém, o médico faz notar que “o regresso de níveis detectáveis de VIH nos doentes é um resultado cientificamente importante, [porque permitiu] descobrir que os reservatórios do VIH são mais profundos e persistentes do que pensávamos.” Resultados recentemente publicados também apontam para o facto de os reservatórios de VIH – os locais do organismo onde o vírus se esconde e fica em estado latente – serem muito maiores e portanto mais difíceis de erradicar do que previamente suposto.

Um outro elemento importante é, ainda segundo Henrich, que "talvez exista um importante e persistente reservatório do VIH" que não tenha directamente a ver com o sangue. De facto, é na medula óssea que nascem todas as células sanguíneas, incluindo as que compõem o sistema imunitário (o alvo do VIH) – e esta experiência mostrou claramente que a supressão da própria medula óssea dos doentes, necessariamente feita antes de realizar o transplante, não chegou para erradicar o vírus.

Ambos os doentes retomaram o tratamento antirretroviral depois da detecção do VIH, salienta ainda o comunicado. O vírus está a ser controlado como previsto e os dois homens encontram-se actualmente “de boa saúde”.

Até agora, apenas um doente no mundo parece ter conseguido expulsar totalmente o vírus VIH após um transplante de medula óssea. Mas o caso deste homem, conhecido como o “doente de Berlim”, é diferente na medida em que o transplante que recebeu provinha de um dador que apresentava uma mutação, num gene chamado CCR5, que torna as células sanguíneas imunes ao vírus da sida.

O outro caso de uma remissão a longo prazo após a interrupção do tratamento antirretroviral é o de um bebé norte-americano que recebeu doses terapêuticas desses medicamentos logo após à nascença.
 
 
 

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