Saneamento básico não chega a 40 por cento da população mundial

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Doenças como a cólera podem ser controladas nos países em desenvolvimento se existir um sistema de canalização Rafiqur Rahman/Reuters

Imagine que na cidade onde vive quatro em cada dez pessoas não tinham acesso ao sistema de esgotos. Imagine ainda que era um dos contemplados com uma casa sem autoclismo, banheira, lava-loiças ou bidé. Sem um sistema de canos que levasse toda a porcaria para longe de si. Para culminar, não podia fazer nada relativamente a essa situação.

O exemplo parece-lhe exagerado? Não é. A única diferença reside na escala. Em todo o mundo 2600 milhões de pessoas não têm saneamento básico. Dessas, quase mil milhões são crianças. As regiões mais afectadas por este problema são a África subsaariana e a Ásia. No entanto, desde a passagem do milénio que as Nações Unidas querem reduzir até 2015 este número para metade, e para que o assunto não fique esquecido 2008 foi eleito o Ano Internacional do Saneamento.

A falta de sistema de esgotos e o saneamento sem tratamento são as grandes causas para a transmissão de doenças. Estima-se que a cada 20 segundos uma criança morra de doenças como a diarreia ou a cólera por falta de uma rede de saneamento. Muitos especialistas defendem que parte da resolução do problema pode passar pela utilização de métodos biológicos para tratamento das águas como plantas ou bactérias do solo que se alimentem dos dejectos.

Segundo a Reuters, a empresa francesa Veolia, líder em fornecimento de água, alega que é na Ásia Oriental e no Pacífico onde estão a acontecer maiores progressos nesta área. Já em África só três cidades em Marrocos é que realizaram contratos em grande escala com a empresa. Mas no continente, existem ideias interessantes para se combater esta falta. Numa prisão em Mombaça, no Quénia, projecta-se um sistema de tratamento de águas para 4000 inclusos que vai passar pela construção de um terreno pantanoso onde as plantas processam a matéria.

Se nos países em vias de desenvolvimento 70 por cento das indústrias não têm tratamento do sistema de esgotos, projectos baratos em que se aproveita a eficácia dos sistemas naturais podem ser a resposta. Segundo vários cientistas, os pântanos, as florestas e os mangais, locais que por si fornecem alimentos, purificam as águas e são fonte de matérias-primas são uma mais-valia a todo o nível e devem ser mantidos.

Um dos problemas a ultrapassar é fazer chegar as redes de saneamento aos mais pobres. O sistema de canalizações é caro e a não ser que tenha financiamento só as famílias com rendimento médio ou alto é que podem suportar os custos. As Nações Unidas estimam que serão necessários 6340 milhões de euros por ano para atingir os objectivos para 2015. Mas o retorno deste investimento será sete vezes superior devido à diminuição da frequência de doenças. A população mundial vai continuar a crescer e com ela a necessidade de lutar contra este problema.

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