Quatro perguntas a Julie Packard, do Aquário da Baía de Monterey, EUA

Julie Packard conta o que encontrou quando visitou o Oceanário de Lisboa.

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COREY ARNOLD/MONTEREY BAY AQUARIUM

Julie Packard, bióloga marinha, é directora executiva e vice-presidente do conselho de curadores do Aquário de Monterey. É uma das suas fundadoras e o rosto da sua liderança. Explica como Monterey é hoje considerado o melhor aquário do mundo e o que encontrou quando visitou o Oceanário de Lisboa.

Do ponto de vista de uma cientista, como bióloga marinha, qual é o principal desafio de gestão de um aquário de topo mundial, considerado o melhor do mundo?
O maior desafio é o mesmo de qualquer negócio: oferecer um excelente produto que é valorizado pelos clientes. Para um aquário público, isso significa a manutenção de exposições de primeira qualidade e a oferta ao cliente de uma experiência superlativa. A nossa missão vai para lá da experiência de visita do aquário, temos de garantir que somos líderes nos programas educacionais que oferecemos, de modo a que possamos cultivar, entre os jovens que marcarão o mundo no futuro, uma nova geração de líderes ambientalistas da conservação do oceano com conhecimento científico. Somos cada vez mais activos na área da política dos oceanos, assegurando que a ciência informa a acções dos decisores políticos, de modo a política pública apoiar um futuro com oceanos saudáveis.

O que distingue o Aquário de Monterey de outros do mundo?
Inicialmente, eramos os únicos entre os maiores aquários por causa das nossas exposições permanentes completamente focadas na vida marinha das águas da nossa região. Fomos a primeira grande instituição a escolher este tema. Os biólogos marinhos que ajudaram a fundar o aquário sabiam que a baía de Monterey tem uma diversidade incrivelmente rica de animais, plantas e ecossistemas que o público desconhecia.

Abraçamos novos desafios desde a abertura – procurando perspectivas para apresentar novas histórias sobre animais e oceanos aos visitantes através das nossas exposições ao vivo. Fomos os primeiros a criar exposições de alforrecas em grande escala; os primeiros a ter um programa regular de novas exposições temporárias; os primeiros a ter uma exposição da diversidade de vida no oceano aberto que cobre a maior parte do nosso planeta. Continuamos a assumir desafios e a oferecer exposições temporárias, como a que temos actualmente, Tentáculos,  que mostra a variedade de cefalópodes, incluindo polvos, lulas e náutilos.

Para além das nossas exposições ao vivo, é nossa missão inspirar o público e os decisores a agirem em defesa de oceanos saudáveis – e ter sempre a certeza de que os nossos esforços se baseiam no melhor conhecimento científico disponível. Encorajamos as instituições congéneres, enquanto plataformas públicas de atracções populares para os visitantes, a liderarem a mudança e tornarem-se mais activas em defesa da conservação dos oceanos nas suas próprias comunidades. Os oceanos necessitam da nossa ajuda e os aquários têm uma especial responsabilidade como líderes da conservação dos oceanos.

O Aquário da Baía de Monterey tem um conceituado programa de conservação dos oceanos e de educação. Poderia fazer o mesmo se fosse uma instituição privada [visando o lucro]?
Acredito que é muito mais fácil ser líder da conservação do oceano, ciência e educação como organização não lucrativa. Muitas organizações lucrativas fazem um trabalho louvável face aos seus compromissos de responsabilidade social, mas em última análise a sua prioridade é o retorno do investimento para os seus proprietários e accionistas.

A nossa primeira prioridade é inspirar a conservação dos oceanos. Acredito que os aquários devem focar-se de forma especial na educação pública e na ciência em defesa da conservação e uma estrutura não lucrativa permite dedicar-se claramente ao benefício público. No caso da nossa instituição, temos uma missão claramente de bem social – oceanos saudáveis para as pessoas e para a vida selvagem – e avançamos na conservação dos oceanos através de uma série de excelentes programas. Em troca, os nossos programas e o nosso impacto têm crescido todos os anos e temos atraído pessoas, empresas e fundações a partilhar as nossas aspirações.

Já visitou o Oceanário de Lisboa, considerado o segundo melhor do mundo?
Visitei-o e é um equipamento excelente. As exposições são muito bem concebidas, bem cuidadas. Tem investido continuamente em novas experiências para o público. Impressionou-me especialmente a atenção que dá a importantes mensagens da conservação em relação aos animais e aos habitats que mostram. Concebeu vias muito interessantes e eficazes de passar a mensagem. O CEO João Falcato é largamente respeitado na nossa área e está a fazer um trabalho incrível. Os meus parabéns à equipa por ser a número dois no mundo – trabalhou muito para receber esta honra, muito merecida!  

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