Quatro investigadores a trabalhar em Portugal recebem financiamento do Conselho Europeu de Investigação

Os projectos portugueses seleccionados, que somam um financiamento de quase sete milhões de euros, vão das neurociências a um estudo sobre género e direitos sexuais, passando pela genética e a biologia celular.

Lars Jansen (no centro) e o seu grupo do Instituto Gulbenkian de Ciência
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Lars Jansen (no centro) e o seu grupo do Instituto Gulbenkian de Ciências Roberto Keller/IGC
Rui Costa, da Fundação Champalimaud
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Rui Costa, da Fundação Champalimaud Daniel Rocha
Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular
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Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular Cortesia Instituto de Medicina Molecular
Sofia Aboim, do Instituto de Ciências Sociais
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Sofia Aboim, do Instituto de Ciências Sociais DR

O Conselho Europeu de Investigação (ERC) anunciou esta terça-feira os nomes dos 312 cientistas que irão receber financiamento, ao longo dos próximos cinco anos, no âmbito das chamadas Subvenções de Consolidação (Consolidator Grants) que este organismo, cuja missão é fomentar a investigação de excelência na Europa, atribui a investigadores em fase média de carreira.

Entre os seleccionados figuram quatro cientistas que trabalham em Portugal: Rui Costa, do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud em Lisboa; Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade (IMM) de Lisboa; Lars Jansen, do Instituto Gulbenkian de Ciências (IGC) de Oeiras; e Sofia Aboim, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

Rui Costa irá receber dois milhões de euros para estudar como o cérebro consegue criar conceitos e acções complexas a partir de pequenos “fragmentos” de ideias e movimentos – um processo designado por chunking. “Sabe-se que os circuitos neuronais dos gânglios da base [grupo de estruturas cerebrais implicadas na aprendizagem, nos movimentos voluntários, na cognição, etc.] são importantes para este processo, mas sabe-se muito pouco sobre como é que os elementos individuais destes circuitos neuronais estão ligados entre si”, explica Rui Costa em comunicado da Fundação Champalimaud. Com o financiamento, a sua equipa vai agora “dissecar, com uma precisão espacial e temporal sem precedentes, o papel dos subcircuitos dos gânglios da base no processo de chunking”, acrescenta.

Já o projecto de Edgar Gomes, que também obteve dois milhões de euros, centra-se no estudo dos mecanismos que controlam o posicionamento do núcleo nas células. Nas células que migram dentro do corpo, por exemplo, o núcleo (que contém o ADN) desloca-se para a parte de trás da célula. “As células do sistema imunitário migram para combater as bactérias e o posicionamento do seu núcleo é importante para conseguirem passar”, explicou ao PÚBLICO o cientista, que foi um dos primeiros a estudar esta questão quando estava a fazer o pós-doutoramento nos Estados Unidos.

Edgar Gomes interessa-se também pelo posicionamento do núcleo nas células musculares, que já demonstrou ser igualmente importante para a função muscular. A sua equipa quer agora saber por que é que esse posicionamento é importante e desvendar como é controlado. O trabalho, diz Edgar Gomes, poderá ter implicações na terapêutica do cancro, ao permitir desenvolver formas de bloquear a formação de metástases bloqueando a deslocação do núcleo dentro das células cancerosas quando elas estão prestes a migrar para outros tecidos do organismo.

Ciência em tempos difíceis

A Lars Jansen, natural da Holanda, irão ser atribuídos 1,6 milhões de euros para estudar os mecanismos não genéticos que controlam a transmissão fidedigna de informação de uma célula-mãe para as suas células filhas, explica, por seu lado, um comunicado do IGC. O trabalho procura elucidar, em particular, o impacto destes mecanismos “epigenéticos” no desenvolvimento do cancro e na diferenciação das células estaminais (as células capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo). “Este financiamento do ERC irá dar um enorme impulso à nossa investigação”, disse Larsen, citado no mesmo documento, quando soube que tinha obtido a bolsa. “Receber [um montante] tão elevado é bastante importante, uma vez que o financiamento da ciência é actualmente muito reduzido, principalmente o nacional”, salientou. “Os fundos do ERC vão permitir-nos manter um programa de investigação forte em tempos difíceis para a ciência.”

Quanto a Sofia Aboim, o seu projecto, que será financiado em quase 1,3 milhões de euros, intitula-se Cidadania de género e direitos sexuais na Europa: vidas transgénero numa perspectiva transnacional e “propõe investigar as vidas das pessoas transgénero bem como o aparato institucional que as enquadra em cinco países europeus em Portugal, França, Reino Unido, Holanda e Suécia”, diz o ICS em comunicado.

O financiamento total agora distribuído pela ERC a cientistas de 33 nacionalidades, a trabalhar em instituições de 21 países em toda a Europa, é de cerca de 575 milhões de euros, sendo a média das subvenções concedidas de 1,84 milhões de euros e o montante máximo de 2,75 milhões de euros, salienta ainda o comunicado da ERC.

A selecção foi feita a partir de mais 3600 candidaturas por 25 painéis constituídos por cientistas de renome de todo o mundo. A média etária dos investigadores seleccionados é de 39 anos. Cerca de 45% por cento dos seleccionados são das áreas das ciências físicas e engenharias, 37% das ciências da vida e quase 19% das ciências sociais e humanidades. O Reino Unido (62 seleccionados), a Alemanha (43) e a França (42) são os países à cabeça da lista. Em termos de nacionalidade, os alemães (48 seleccionados) e os italianos (46) estão no topo, seguidos dos franceses (33), dos britânicos (31) e dos holandeses (27).
 

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