O robô File talvez ainda acorde

Esta quinta-feira a missão, até aí inédita, de aterragem num cometa faz um ano. Final de Janeiro de 2016 é o prazo-limite para que o robô volte a dar sinais de vida.

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O cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko em Junho de 2015 ESA
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Ilustração do robô File pousado no cometa ESA

Será que o robô File, que comemora esta quinta-feira o seu primeiro ano pousado no cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, ainda vai sair do seu mutismo ao fim de quase quatro meses de silêncio? A equipa responsável pelo robô-laboratório tem esperanças de que sim, depois de a sonda Roseta se ter reaproximado novamente do cometa.

“Há verdadeiramente boas hipóteses de podermos estabelecer um novo contacto com o File. Digamos que essas hipóteses são de 50%”, disse à agência noticiosa AFP Stephan Ulamec, da agência espacial alemã DLR e responsável pelo módulo europeu de aterragem no cometa. “Para isso, é preciso que os painéis solares não tenham recebido muitas poeiras nos últimos meses e que o seu sistema de comunicação com a Roseta funcione correctamente”, acrescentou.

Depois de dez anos de viagem como passageiro da Roseta, uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA), o robô File protagonizou a 12 de Novembro um feito histórico inédito ao aterrar no cometa Churi, como também é conhecido. Esta aterragem foi atribulada e, antes de ter estabilizado numa zona à sombra, entre duas falésias, o robô ressaltou várias vezes. Com a missão de recolher informações sobre o cometa, o File conseguiu trabalhar durante 60 horas, antes de adormecer devido à escassez de luz solar para alimentar as suas baterias.

Houve então uma longa hibernação e, a 13 de Junho deste ano, o File surpreendeu-nos ao acordar. Até 9 de Julho, ocorreram oito contactos com a Terra, nem sempre estáveis. Depois, o robô voltou a ficar em silêncio.

A esperança renasceu agora à volta do File, uma vez que a sonda europeia se reaproximou novamente do cometa. Para que o File possa comunicar com a Roseta, é necessário que esta sonda esteja a menos de 200 quilómetros de distância do cometa, sublinhou Stephan Ulamec.

Desde Agosto que a Roseta foi obrigada a afastar-se substancialmente do 67P/Churiumov-Gerasimenko, que lançava cada vez mais gases e poeiras à medida que se aproximava do Sol. O cometa atingiu o ponto mais próximo do Sol a 13 de Agosto, e desde então tem estado a afastar-se. “A actividade do cometa diminuiu desde Setembro, o que é favorável à reaproximação”, explicou Sylvain Lodiot, responsável pelas operações de voo da Roseta na ESA.

No início da semana passada, a sonda encontrava-se a 270 quilómetros do cometa e a 270 milhões de quilómetros da Terra. Nos dias seguintes, foi-se aproximando mais do cometa, sendo o objectivo de pô-la a 200 quilómetros de distância. A sua segurança foi sempre, no entanto, a prioridade e se as poeiras lançadas pelo cometa fossem muitas e atingissem os sensores estelares que permitem à Roseta orientar-se através das estrelas, ela afastar-se-ia novamente.

Até agora, tudo correu bem. “Estou novamente a cerca de 200 quilómetros de distância. Isto aumenta as hipóteses de ter notícias do File”, anunciou esta segunda-feira a Roseta na sua conta do Twitter animada pela ESA.

“Estamos razoavelmente optimistas”, referiu por sua vez Philippe Gaudon, chefe do projecto da Roseta no Centro Nacional de Estudos Espaciais francês, em Toulouse, França.

Avanços científicos

As equipas de cientistas esperam que o robô, equipado com dez instrumentos científicos, recomece a enviar dados, primeiro para a Roseta, e daí para a Terra. “Se quisermos repetir experiências científicas, é necessário que a sonda esteja a 100 ou 150 quilómetros do Churi”, para melhorar os contactos”, explicou Philippe Gaudon.

Nada poderá fazer-se sem que exista uma comunicação estável entre o File e a Roseta. “Basta-nos um contacto de uma dezena de minutos por dia para realizarmos as nossas experiências”, referiu Jean-Pierre Bibring, responsável científico do robô.

A missão da Roseta, que implicou mais de 20 anos de trabalho, procura aprofundar os conhecimentos sobre a evolução do sistema solar desde o início da sua formação, há cerca de 4600 milhões de anos. Os cometas são considerados os vestígios da matéria primitiva dos tempos iniciais da formação do sistema solar.

Ao fim de um ano, a dupla Roseta-File já contribuiu para progressos na ciência dos cometas. Permitiu ver, de forma sem precedentes, os grãos da superfície do núcleo do cometa. Durante o seu primeiro ressalto, o robô levantou uma nuvem de poeiras e farejou uma série de compostos voláteis, entre os quais moléculas orgânicas, tijolos da vida nunca antes detectados num cometa.

Os instrumentos do File evidenciaram ainda a presença de um material orgânico de carbono na superfície do cometa, mas sem dúvida também no núcleo. “Continuamos a analisar esse material. Como é muito refractrário [resistente], é preciso aquecê-lo para que se fragmente e entre nos nossos instrumentos”, explicou Jean-Pierre Bibring.

Os pequenos fornos do File, situados no exterior do robô, talvez tenham capturado um pouco desse material, que poderá ser constituído por macromoléculas complexas. Se os fornos não tiverem nada, é preciso perfurar o solo para os alimentar. Há um ano, o File tentou fazer uma perfuração, que, no entanto, não deu em nada. Furou no vazio. “É preciso fazer girar o File alguns graus para que a broca possa tocar no chão, o que apresenta um certo risco”, acrescenta Jean-Pierre Bibring.

Limite: até ao fim de Janeiro

Mas, afinal, quando é que o File poderá acordar? Se não estiver muito danificado, isso ainda é possível nos próximos meses. “Já nesta semana, poderemos ter alguns contactos com o robô. Mas será sobretudo a partir do fim de Novembro e início de Dezembro que esperamos poder reiniciar uma série de operações científicas com o File”, considerou Jean-Pierre Bibring.

Depois disso, será demasiado tarde e as temperaturas na superfície do cometa começarão a baixar. “No final de Dezembro ou início de Janeiro, o robô começará a estar muito longe do Sol para ser capaz de comunicar”, acrescentou Stephan Ulamec. “Temos até ao fim de Janeiro” como derradeiro limite para tentar pôr o File a trabalhar, resumiu Jean-Pierre Bibring.

Depois disso, o File terá o descanso merecido no Churi, enquanto espera até Setembro de 2016, altura em que provavelmente a Roseta terminará a sua vida pousando também na superfície do cometa.

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