Populações de micróbios vivos detectadas na média e alta troposfera

Pela primeira vez, um estudo mostra que esta camada da atmosfera tem mais vida do que se pensava.

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Natasha DeLeon-Rodriguez, co-autora do estudo, olha para uma cultura de bactérias troposféricas Gary Meek/Georgia Tech

Utilizando técnicas de sequenciação genética, uma equipa de cientistas dos EUA detectou a presença de quantidades significativas microrganismos vivos, sobretudo bactérias, na troposfera, a altitudes entre os oito e os 15 mil metros.

“Não estávamos à espera de encontrar tantos microrganismos [a essa altitude] na troposfera, considerada como um ambiente difícil para a vida”, diz Kostas Konstantinidis, que com os seus colegas publica esta segunda-feira os resultados do estudo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, em comunicado do Instituto de Tecnologia da Califórnia, onde trabalha.

Os microrganismos provinham de amostras, recolhidas por cima dos continentes e dos oceanos. A recolha foi feita em 2010 por um avião DC-8 – antes, durante e a seguir a dois grandes furacões, no âmbito do programa Processos de Génese e de Intensificação Rápida (GRIP), da agência espacial norte-americana NASA, destinado a estudar as massas de ar associadas às tempestades tropicais.

A análise genética mostrou que cerca de 20% das partículas detectadas com tamanhos entre 0,25 e um micrómetro de diâmetro eram céluas bacterianas viáveis, explica ainda o mesmo comunicado. Os cientistas detectaram um total de 17 grupos diferentes de bactérias, incluindo algumas capazes de metabolizar os compostos de carbono omnipresentes na atmosfera.

Ainda não é possível dizer se estes microrganismos são hóspedes habituais daquela região da atmosfera – a alimentarem-se, talvez, dos tais compostos de carbono – ou se, pelo contrário, vivem no solo e foram para lá levados pelos fenómenos meteorológicos.
Contudo, pensa-se que a descoberta possa ser importante para os especialistas da atmosfera e do clima, uma vez que a presença de bactérias poderá ter um impacto, até agora desconhecido, sobre a formação das nuvens. “Na ausência de poeiras ou outros materiais susceptíveis de fornecer núcleos para a formação de gelo, o facto de haver por perto um pequeno número desses microrganismos poderia facilitar a formação de gelo àquelas altitudes e atrair a humidade ambiente”, diz por seu lado Athanasios Nenes, co-autor do estudo. “Se tiverem o tamanho certo para formar gelo, poderão afectar as nuvens à sua volta.”

A descoberta poderá ser igualmente importante para o desenvolvimento de modelos de disseminação de doenças a grande distância. E os cientistas também estão interessados em saber se essas bactérias estão ou não a desempenhar funções metabólicas na troposfera. “Não me surpreenderia nada se existisse uma vida e uma proliferação [microbiana] activas nas nuvens”, diz Konstantinidis.
 
 
 
 

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