Populações de animais selvagens caíram para metade desde 1970

A maior queda verificou-se na América Latina entre as espécies de peixes de água doce, segundo um novo estudo da organização ecologista WWF.

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As maiores quebras populacionais verificaram-se entre os verterbrados da América Latina Hector Guerrero/AFP

As populações mundiais de peixes, aves, mamíferos e répteis sofreram uma redução de 52% entre 1970 e 2010 – muito mais rápida do que se previa, anunciou esta terça-feira a organização ecologista WWF.

O Relatório Planeta Vivo da WWF, publicado de dois em dois anos, salienta que as exigências das populações humanas estão agora 50% acima do que a natureza é capaz de aguentar, com árvores a serem cortadas, aquíferos a serem bombeados e dióxido de carbono a ser emitido demasidado depressa para o planeta recuperar. “Estes danos não são inevitáveis, são uma consequência do estilo de vida que escolhemos”, disse em comunicado Ken Norris, director científico da Sociedade Zoológica de Londres.

Contudo, segundo o relatório, ainda há esperanças se os políticos e as empresas fizerem o necessário para proteger a natureza. “É essencial aproveitar a oportunidade – enquanto ainda podemos – de termos um desenvolvimento sustentável e de criarmos um futuro onde as pessoas conseguem viver e prosperar em harmonia com a natureza”, afirmou pelo seu lado Marco Lambertini, director internacional da WWF. A conservação da natureza não tem só a ver com a protecção dos habitats selvagens, mas também com a salvaguarda do futuro da humanidade – “com a nossa própria sobrevivência” –, acrescentou.

Relativamente às populações selvagens de vertebrados, o relatório conclui que os maiores declínios se verificaram nas regiões tropicais, em especial na América Latina.

O chamado “índice Planeta Vivo” da WWF baseia-se em tendências observadas em 10.380 populações de 3038 espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. E a média de 52% agora divulgada é muito superior à que já tinha sido reportada, em parte porque os estudos anteriores foram realizados com base em informações mais facilmente acessíveis, vindas da América do Norte e da Europa, segundo a WWF. O mesmo relatório, na sua edição de há dois anos, estimava que o declínio se situava nos 28% entre 1970 e 2008.

Segundo os novos resultados, a pior quebra deu-se entre as populações de peixes de água doce, que caíram 76% nas últimas quatro décadas até 2010, enquanto ambos os números relativos às populações marinhas e terrestres desceram 39%. A principal razão do declínio das populações foi a perda de habitats naturais, a caça e a pesca e as alterações climáticas.

Pegada ecológica
Para avaliar as diferenças de impacto ambiental entre os diversos países, o estudo mediu a “pegada ecológica” de cada um e as áreas agrícolas e aquáticas – isto é, a “biocapacidade” – que cada país declarava.

Segundo estes cálculos, o Kuwait tem a maior pegada ecológica, o que significa que os kuwaitianos consomem e desperdiçam mais recursos per capita do que qualquer outra nação, conclui ainda o relatório. Seguem-se o Qatar e os Emirados Árabes Unidos. Mas estes não são os únicos países ricos em causa.

“Se toda a gente no planeta tivesse a pegada ecológica do habitante médio do Qatar, precisaríamos de 4,8 planetas. Se o nosso estilo de vida fosse o de um típico residente nos EUA, precisaríamos de 3,9 planetas”, lê-se no relatório.

Muitos países mais pobres – incluindo a Índia, a Indonésia e a República Democrática do Congo – têm pegadas ecológicas que o planeta consegue amplamente sustentar. O relatório também avaliou quão perto está o nosso planeta de nove “limites planetários”, que constituem limiares para além dos quais podem surgir “alterações potencialmente catastróficas para a vida tal como a conhecemos”.

A conclusão é que três desses patamares já foram ultrapassados – o da biodiversidade, o dos níveis de dióxido de carbono e o da poluição pelo azoto devida aos fertilizantes. Outros dois estão em perigo de serem ultrapassados: o da acidificação dos oceanos e o dos níveis de fósforo nos cursos de água. “Dado o ritmo e a escala das mudanças, já não podemos descartar a possibilidade de virmos a atingir certos pontos críticos a partir dos quais as condições de vida na Terra poderiam ficar abrupta e irreversivelmente alteradas”, salienta o documento da WWF.

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