Planeta-anão Ceres tem menos gelo e mais sal do que se previa

Novos dados recolhidos pela sonda Dawn, da NASA, confirmaram que os misteriosos pontos brilhantes desta rocha esférica têm grandes quantidades de carbonato de sódio – ou seja, um sal.

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Superfície de Ceres está marcada por mais de 130 pontos brilhantes que surgem nas imagens como luzes num fundo cinzento NASA/JPL/Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA
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O planeta-anão Ceres está na cintura de asteróides entre Marte e Júpiter NASA/JPL/Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA

Ceres está no nosso sistema solar, numa cintura de asteróides entre Marte e Júpiter. Começou por ser um planeta, depois foi considerado um asteróide e, finalmente, ficou classificado como um planeta-anão. Há pouco mais de uma década, o telescópio espacial Hubble revelou algo especial em Ceres que intrigou e entusiasmou os cientistas: na superfície desta rocha cinzenta com um diâmetro de 950 quilómetros existiam pontos brilhantes. Desde essa altura, que o brilho do planeta-anão tem ocupado os investigadores, que inicialmente pensaram que estariam a olhar para o efeito de gelo. Agora, novos dados enviados pela sonda Dawn, da NASA, e publicados esta semana nas revistas Nature e Nature Geoscience permitiram concluir que, afinal, estes pontos brilhantes são o resultado de elevadas concentrações de um sal, mais precisamente de carbonato de sódio.

A superfície mais escura de Ceres está marcada por mais de 130 pontos brilhantes que surgem nas imagens como luzes num fundo cinzento. O maior ponto luminoso chamado Spot 5, formado por um grupo de manchas brilhantes, está situado na cratera de impacto Occater, que tem 92 quilómetros de largura e quatro de profundidade. Em Dezembro de 2015, as imagens e outros dados recolhidos pela sonda Dawn já tinham levado os cientistas a concluir que as luzes seriam o resultado de grandes depósitos de sais. No artigo publicado nessa altura também na Nature os cientistas avançavam com a hipótese de existir igualmente uma camada de gelo sob a superfície de Ceres. Os pontos luminosos seriam locais atingidos por meteoritos que romperam a superfície de Ceres e expuseram a camada que estava por baixo, permitindo que a água passasse para o estado gasoso e sobrassem apenas sais.

Agora, uma equipa internacional de cientistas, liderada por Maria Cristina de Sanctis, do Instituto Nacional de Astrofísica em Itália, publica um artigo na Nature que confirma a presença destes grandes depósitos de sal, misturados com pequenas quantidades de silicatos e de carboneto e cloreto de amónio.

Os investigadores analisaram os dados recolhidos pelo espectrómetro VIR (Visible and InfraRed, que está a bordo da sonda Dawn) a uma distância de 1400 quilómetros de Ceres. Segundo adiantam, estes compostos foram transportados do interior do planeta-anão para a sua superfície e são resíduos sólidos de uma cristalização de salmoura, desencadeada por uma fonte de calor transitória. A outra hipótese, admitem, é o interior de Ceres possuir uma temperatura acima da das camadas de superfície, o que poderia significar que ainda hoje existem fluidos nas partes mais profundas do planeta-anão.

O outro trabalho na Nature Geoscience conclui que as grandes crateras de Ceres são demasiado profundas para se considerar a hipótese de as camadas abaixo da sua superfície serem feitas de gelo. Segundo este grupo de investigadores liderado por Michael Bland, do Centro de Ciência de Astrogeologia do Arizona (EUA), a subsuperfície do planeta-anão será composta por apenas 30 a 40% de gelo. O resto será uma mistura de rocha com outro material forte mas de baixa densidade. Talvez sais hidratados.

A sonda Dawn entrou em órbita de Ceres a 6 de Março do ano passado, após um périplo de sete anos e meio. Demorou vários dias a integrar-se na sua primeira “órbita científica circular”, a uns 13.500 quilómetros de altitude, e foi só a 27 de Abril que a missão teve oficialmente início.

O objectivo da missão, cujo custo é de 446 milhões de euros, é testar a teoria segundo a qual Ceres seria uma espécie de “embrião” de um planeta rico em água – uma relíquia do nascimento do sistema solar, há 4500 milhões de anos. Ceres demora o equivalente a 4,61 anos terrestres a dar a volta ao Sol. Foi observado pela primeira vez em 1801 pelo astrónomo italiano Giuseppe Piazzi, que lhe deu o nome da deusa romana da agricultura.

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