Pigmeus africanos, um símbolo da capacidade humana de adaptação

Em média, um adulto mede 1,55 metros.

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Criança da etnia baka a ser pesada para o estudo Fernando Victor Ramirez Rozzi

Os baka, um grupo étnico que vive no Oeste da África equatorial, nascem com um tamanho dentro do padrão das populações europeias mas depois crescem pouco até aos três anos, enquanto os pigmeus da zona Leste da África equatorial vêm ao mundo já com um tamanho reduzido e vão crescendo de forma lenta. Estas duas formas de evolução distintas têm o mesmo objectivo: a adaptação a uma vida na floresta.

Já sabíamos que o tamanho pequeno destas populações africanas se explicava pela genética, mas os investigadores não tinham dados fiáveis para analisarem o seu crescimento. Agora, os registos recolhidos na missão católica de Moange-le-Bosquet, nos Camarões, permitiram o estudo da etnia baka, cujos resultados foram publicados na última edição da revista Nature Communications. Os cientistas utilizaram registos de nascimentos realizados pelas enfermeiras da missão católica ao longo da década de 70 e, depois, entre 1985 e 2007, bem como registos feitos pela própria equipa entre 2007 e 2014. No total, os registos tinham informação sobre mais de mil membros da etnia baka, até aos 25 anos, o que permitiu fazer as primeiras curvas de crescimento dos pigmeus africanos. Desses dados sobressai que a morfologia destas populações resulta de dois mecanismos diferentes. Trata-se de uma evolução convergente em resposta a um ambiente semelhante – a floresta equatorial.

As populações de pigmeus africanos, nas quais um adulto tem em média 1,55 metros, partilham um antepassado comum há cerca de 60.000 e ter-se-ão separado em dois grupos principais há aproximadamente 20.000 anos, segundo o estudo na Nature Communications.

Um dos grupos está Ruanda, Uganda e no Leste da República Democrática do Congo (no Leste africano), enquanto o outro, onde se incluem os baka, se encontra nos Camarões, na República Centro Africana, no Congo, Gabão e no Oeste da República Democrática do Congo (no Oeste africano).

“Populações humanas de pequena estatura existem em todos os continentes. O termo ‘pigmeu’ tem sido largamente usado para todas elas sem um fundamento biológico”, lê-se no artigo. “[Mas] como os estudos genéticos têm sugerido que os pigmeus africanos partilham um antepassado comum, há uma fundamentação biológica para a palavra ‘pigmeu’ se for restringida às populações africanas”, acrescenta-se. “Embora outros grupos de pequena estatura vivam em ambientes diferentes, a restrição o uso de ‘pigmeu’ a grupos que partilham padrões socioeconómicos e comportamentos culturais e que vivem num ambiente similar fornece uma base para investigar a sua adaptação anatómica.”

Uma vez que as populações de pigmeus africanos se separaram há cerca de 20.000 anos, as diferenças na forma como cada uma delas cresce evoluíram há relativamente pouco tempo. “Talvez seja uma capacidade reservada à nossa espécie”, diz um dos co-autores do artigo, Victor Ramirez Rozzi, do Centro Nacional de Investigação Científica francês, em Paris.

Segundo o estudo, esta plasticidade no crescimento – a capacidade de mudança – teve um papel determinante na expansão do Homo sapiens fora de África, ao permitir-lhe adaptar-se rapidamente a novos ambientes.

“O nosso antepassado saiu de África há cerca de 60.000 anos e alguns milhares de anos mais tarde ocupava todo o planeta, ao contrário de outras espécies de hominídeos que tiveram uma distribuição geográfica limitada ou mesmo muito limitada”, refere Victor Ramirez Rozzi. “Claro que a cultura tem um grande papel na evolução, tal como a capacidade de os nossos antepassados se adaptarem fisicamente a ambientes hostis.”

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