Para os babuínos-anúbis, a democracia faz-se… caminhando

A igualdade na tomada de decisões entre estes primatas é um benefício evolutivo para resolução de conflitos do grupo.

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Babuínos-anúbis no Centro de Investigação de Mpala, no Quénia Cortesia de Rob Nelson

O babuíno-anúbis é uma espécie que vive em sociedades extremamente hierarquizadas. Mas nestas comunidades a maioria é quem tem o poder. Um projecto de investigação do Centro de Investigação de Mpala, no Quénia, vem agora provar que estes primatas põem a democracia em primeiro lugar quando se trata de decidir os percursos que o grupo deve fazer.

Publicado esta sexta-feira na revista Science, o estudo aponta o uso de princípios democráticos como um benefício evolutivo na resolução de conflitos em grupos de espécies selvagens. Apesar da rigorosa hierarquia a que obedecem, existe entre os animais da espécie babuíno-anúbis (Papio anubis) uma clara distinção entre estatuto social e liderança.

“Apesar do seu estatuto social, não são necessariamente os machos alfa que influenciam para onde os grupos se deslocam”, afirma num comunicado de imprensa Margaret Crofoot, investigadora do Instituto de Smithsonian de Investigação Tropical, no Panamá, e uma das autoras do artigo. “As nossas observações sugerem que muitos ou todos os membros do grupo podem ter voz, mesmo em sociedades altamente hierarquizadas.”

O método consistiu em usar um colar GPS em cada um dos 25 babuínos escolhidos, para acompanhar, a cada segundo e durante 14 dias, os movimentos do grupo. A cada movimento de dispersão de um elemento do grupo, os restantes babuínos enfrentam uma decisão: acompanhar ou não aquela opção individual. Se o que escolheu um novo caminho não for seguido pelos companheiros, então terá de abandonar a sua direcção e voltar a juntar-se ao grupo.

Quando são dois babuínos do grupo a dispersarem-se em direcções diferentes, o processo é simples: se o ângulo formado entre as direcções dos dois for inferior a 90 graus, então o grupo deve escolher uma direcção que se localize num ponto médio entre as duas. Se este ângulo for superior a 90 graus, então inicia-se a votação e a solução é democrática: a maioria decide qual o caminho a tomar, dirigindo-se para lá.

A decisão de mudar de direcção é independente do sexo e estatuto social do babuíno que nesse momento assume a liderança, não se dando valor à hierarquia, mas procurando-se antes alcançar um consenso colectivo. A probabilidade de um líder ser seguido aumenta com o número de seguidores que este consegue.

Os resultados vieram corroborar dados recolhidos em estudos anteriores e abrem novas perspectivas para o entendimento das dinâmicas sociais em grupos de animais selvagens. Os investigadores querem agora tentar perceber quais as motivações que levam elementos individuais a mudar de direcção e de que modo essa estratégia pode ser usada como uma forma vantajosa de influenciar o grupo.


Texto editado por Teresa Firmino

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