O mais pequeno exoplaneta foi encontrado a 210 anos-luz de distância

O Kepler-37b é pouco maior do que a Lua e está muito mais próximo da sua estrela-mãe do que Mercúrio está do Sol.

O novo planeta é inabitável
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O novo planeta é inabitável NASA/Ames/JPL-Caltech
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Comparação entre novos exoplanetas e os planetas do Sistema Solar Reuters

É mais pequeno do que Mercúrio e um pouco maior do que a Lua: o Kepler-37b, descoberto agora e descrito num artigo publicado na edição desta quinta-feira da revista Nature, é, para todos os efeitos, um exoplaneta mínimo.

As nossas expectativas no que toca aos planetas do Universo têm, mais uma vez, de se adaptar à realidade. Ainda não se completaram 20 anos desde a descoberta do primeiro exoplaneta que orbitava uma estrela principal e já passámos de um Universo feito só de estrelas para a era dos Júpiteres gigantes, para um mundo mais complexo, com sistemas estelares que tornaram o nosso quintal cósmico numa ave rara.

O Kepler tem ajudado nessas mudanças de paradigmas. O observatório espacial, lançado em Março de 2009, está a apontar e a analisar constantemente uma pequena área da Via Láctea, que fica entre as constelações do Cisne e da Lira. A cada 30 minutos, capta o brilho de 150.000 estrelas. Entre estas, está o astro principal do sistema Kepler-37, a 210 anos-luz, um sol mais pequeno e frio do que o nosso. À volta, o telescópio identificou três planetas que giram numa órbita mais pequena do que a de Mercúrio.

O Kepler-37b é, dos três planetas, o que está mais perto da estrela. “O que faz este pequeno planeta ser tão interessante é que é mais pequeno do que qualquer coisa que nós temos na região interior do nosso Sistema Solar”, explica Thomas Barclay, citado pela revista Scientific American. O astrofísico pertence ao Centro de Investigação Ames da NASA, na Califórnia. Barclay é o primeiro autor do artigo assinado por várias dezenas de investigadores.

Em apenas 13 dias, o Kepler-37b completa uma órbita. Mercúrio demora quase 88 dias a fazer o mesmo. O que o telescópio Kepler detectou foi, a cada 13 dias, uma muito ligeira diminuição do brilho da estrela, de apenas 0,002%. Foi essa medição periódica que denunciou a existência deste pequeno astro rochoso.

“Mesmo o [telescópio] Kepler só detecta mundos tão pequenos como este à volta das estrelas mais brilhantes”, sublinha Jack Lissauer, astrofísico da mesma instituição de Thomas Barclay e outro autor do estudo. “O facto de descobrirmos o mínimo Kepler-37b sugere que estes pequenos planetas são comuns, e mais maravilhas planetárias esperam-nos enquanto continuamos a recolher e analisar dados adicionais”, diz em comunicado.

Apesar de não haver dados concretos sobre a massa do Kepler-37b, com as medições feitas pelo telescópio é possível ter uma ideia das proporções desta “maravilha”. O planeta tem 80% do raio de Mercúrio e 30% do da Terra, ou seja, é um pouco maior do que a Lua. O satélite da Terra tem um raio de 1737 quilómetros, Mercúrio tem um raio de 2439 quilómetros e o raio da Terra é de 6371 quilómetros.

A girar tão perto da estrela-mãe, com uma temperatura à superfície de cerca de 425 graus, o Kepler-37b não terá condições para conter vida. “Qualquer quantidade de água que existisse à superfície desapareceria muito rapidamente”, explica Thomas Barclay. “Não há quase hipótese alguma de haver uma atmosfera ou algo líquido à superfície.”

Os outros dois planetas descobertos neste sistema também não dão esperança em relação à possibilidade de haver água líquida. O Kepler-37c terá cerca de 70% do tamanho da Terra e completa uma órbita em 21 dias e o Kepler-37d faz um ano em 40 dias e terá o dobro do tamanho do nosso planeta. As temperaturas médias à superfície destes dois astros serão de 287 e 187 graus, respectivamente.

Não se sabe se haverá outros planetas neste sistema solar. “O que o observatório espacial Kepler está a mostrar é que o censo planetário da galáxia é muito diferente do que pensávamos quando a referência era apenas o nosso Sistema Solar”, diz Greg Laughlin, professor de Astronomia e de Astrofísica, da Universidade da Califórnia, que não faz parte deste projecto. “O nosso Sistema Solar não tem nada dentro da órbita de mercúrio. Mas, afinal, passa-se muita coisa na região interior dos sistemas planetários típicos”, explica, citado pela Scientific American.

Até agora, já foi confirmada a existência de 833 exoplanetas. Destes, 114 foram descobertos pelo observatório espacial, adianta a Reuters. A equipa científica do Kepler está a analisar outros 3000 planetas candidatos que orbitam à volta de estrelas naquela pequena região da galáxia que está a ser analisada. Não se espera que as surpresas terminem aqui.
 
 
 

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