O “deslumbre” do mundo natural num documentário sobre a Arrábida

Dois portugueses filmaram animais e paisagens do Parque Natural da Arrábida. O documentário vai passar na SIC, neste domingo.

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A serra da Arrábida e a serra do Risco foram os principais locais filmados João Henriques
Luis Quinta (à esquerda) e Ricardo Guerreiro filmaram os animais e as paisagens da Arrábida
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Luis Quinta (à esquerda) e Ricardo Guerreiro filmaram os animais e as paisagens da Arrábida DR

Um documentário sobre a natureza está repleto de personagens: golfinhos, uma família de águias-calçadas, uma raposa. Luis Quinta e Ricardo Guerreiro foram atrás destes e de outros animais, de plantas e de locais interessantes do ponto de vista geológico no Parque Natural da Arrábida. O resultado desta incursão ao mundo natural chama-se Arrábida – da serra ao mar e vai passar neste domingo, dia 6 Janeiro, na SIC, às 12h.

“O documentário pretende ser didáctico, sem ser enciclopédico. Queremos passar alguma informação, mas interessa-nos focar a história de um animal e tocar as pessoas pelo deslumbre e pela beleza da natureza”, diz Ricardo Guerreiro ao PÚBLICO.

Durante quatro anos, os dois fotógrafos fizeram filmagens esporádicas na região. Depois, no último ano, o guião foi escrito e andaram entre a serra da Arrábida e a serra do Risco a acompanhar a vida selvagem e a filmar as suas paisagens. Grutas, falésias, bosques, o mundo submarino foram alguns dos alvos. Assim como o caracol-da-arrábida ou a planta trovisco-do-espichel, duas espécies que são endémicas desta região e não existem em mais nenhuma parte do mundo.

“Conheço a Arrábida há 40 anos. Conheço bem o lado do mar e o lado da terra”, conta, por sua vez, Luís Quinta, de 47 anos, que idealizou o documentário. “Queria revelar uma Arrábida desconhecida”, disse o fotógrafo que há 20 anos tira fotografias de natureza.

Ricardo Guerreiro explica que para a pesquisa e o enquadramento da região serviram-se do trabalho deixado por Orlando Ribeiro, o grande geógrafo do século passado, cujo doutoramento, em 1936, foi sobre a Arrábida. Já o estilo foi influenciado por anos de documentários da BBC e da National Geographic.

Durante os últimos 12 meses seguiram a vida de uma raposa e de uma família de águias-calçadas. Ricardo Guerreiro acompanhou a época de nidificação do casal de águias. “Conseguimos ver as águias a alimentar as crias, essa história [familiar] de sucesso foi marcante”, conta Ricardo Guerreiro, que tem 35 anos.

Como é que se consegue acompanhar a vida destes animais? “É preciso tempo”, responde Ricardo Guerreiro. Um documentário começa muito antes da primeira filmagem, com várias incursões ao terreno para descobrir as personagens, saber os seus trajectos, os ninhos, os hábitos. De outra forma, se este trabalho não é feito previamente, a filmagem é “um tiro no escuro”.

A raposa fêmea que aparece na película é o resultado de dezenas de visitas de Luís Quinta à Arrábida. “Há raposas pelo país todo e há animais que saem do padrão. Esta raposa saía do padrão e tentei aproveitar a socialização do animal.” Ao fim de 40 ou 50 visitas, conseguiu 20 planos da raposa.

Outras experiências que os dois fotógrafos da natureza recordam é o ambiente cavernícola da gruta do Frade, já perto do cabo Espichel, onde se podem observar pormenores espeleológicos como bandeiras, colunas, estalagmites e estalactites ou o mar aberto ao largo da Arrábida, onde foram filmados animais a caçar e a acasalar.

Uma das dificuldades sentidas foi a falta de financiamento, que os impediu de se dedicarem ao projecto em exclusivo. Parte do próprio material, como uma grua para filmar planos mais difíceis, foi construído pelos documentaristas.

Mas houve experiências que tiveram de ser repensadas, como a da rosa-albardeira. A ideia inicial era acompanhar o desenvolvimento de uma flor desta planta até à sua morte. Para isso, montaram uma base onde a câmara pudesse assentar sempre à mesma altura, onde fotografariam o desenvolvimento da flor entre intervalos de tempo específicos, sempre na mesma posição. “Desde o início, quando a flor estava em botão, que fomos acompanhando o processo”, diz Ricardo Guerreiro. Mas, já no fim, os fotógrafos chegaram ao local e as flores tinham sido ratadas por algum animal. A história da flor entrou na edição final, mas teve de ser contada de outra forma.

Os fotógrafos querem enviar o documentário para concorrer em festivais. Depois, têm intenção de continuar a apostar no documentário natural. Referindo-se à paisagem natural portuguesa, Ricardo Guerreiro cita Mike Salisbury (produtor inglês da BBC que fez vários documentários de natureza e trabalhou com David Attenborough), quando ele esteve em Portugal em 2009, depois de filmar um documentário sobre o montado alentejano: “Estamos sentados sobre uma mina de ouro.”









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