Molécula contra a artrite reumatóide criada em Portugal vai ser testada na China

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As lesões articulares provocadas pela artrite reumatóide podem ser incapacitantes DR

Uma empresa de biotecnologia portuguesa estabeleceu um acordo com um instituto de investigação chinês para se realizarem na China ensaios clínicos de uma molécula contra a artrite reumatóide.

O acordo entre a TechnoPhage, a empresa portuguesa, e o Instituto de Matéria Médica de Xangai foi apresentado esta segunda-feira em Lisboa.

A artrite reumatóide é uma doença inflamatória crónica que se caracteriza por inflamações, inchaço e dores nas articulações e dá lugar à erosão da cartilagem que cobre as extremidades dos ossos, assim como a lesões nos próprios ossos. A cartilagem e as articulações são atacadas pelo sistema imunitário do próprio doente (sem que se perceba exactamente o que desencadeia essa “traição”) como se fossem organismos estranhos, como vírus ou bactérias – e acabam por ser destruídas de forma progressiva.

Os tratamentos têm consistido em anti-inflamatórios e medicamentos que interferem com a proliferação das células imunitárias. Mais recentemente, começaram a utilizar-se os chamados “medicamentos biológicos”, que, em vez de serem quimicamente sintetizados, têm uma origem biológica: é o caso de anticorpos que o organismo produz contra o factor-alfa de necrose tumoral (TNF-alfa), uma substância fabricada pelo sistema imunitário durante os processos inflamatórios excessivos.

No caso da empresa portuguesa, é utilizado um fragmento de um anticorpo que também tem como alvo o TNF-alfa. Esse pedaço de anticorpo liga-se aos receptores do TNF-alfa, diminuindo a progressão do processo inflamatório que ocorre justamente na artrite reumatóide.

“Neste momento, há cinco produtos anti-TNF-alfa produzidos com tecnologias diferentes”, explica o investigador Miguel Garcia, presidente da TechnoPhage. “Por que faz sentido fazer mais produtos? Faz, porque não há produtos 100% eficazes. Como é uma doença crónica, para alguns doentes deixam de funcionar ao fim de algum tempo e há espaço para medicamentos novos.”

Os ensaios em seres humanos deverão começar ainda este ano na China, refere Miguel Garcia, que não quis adiantar os montantes financeiros do acordo, dizendo serem confidenciais. Da parte do instituto estatal chinês esteve em Lisboa o director do Departamento de Farmacologia, Jian-ping Zuo.

Este é o primeiro candidato a medicamento biológico português a chegar a ensaios clínicos. Há um pedido provisório de patente nos Estados Unidos e a empresa, segundo um comunicado de imprensa, pretende apresentar também um pedido para fazer ensaios clínicos à Agência Europeia de Medicamentos ainda em 2012. “Ao mesmo tempo que vamos trabalhar este produto na China, estamos a desenvolvê-lo a nível global”, diz Miguel Garcia, referindo-se, além das agências regulamentadoras dos medicamentos da Europa e da China, à dos Estados Unidos.

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