Microalga "protege" antiga reserva natural das Selvagens das incursões de pescadores espanhóis

Ilhas ou rochedos, as Selvagens? "Rochedos? Eu pago IMI da casa que tenho na Selvagem Grande", diz o médico e ornitólogo Francis Zino. Ironicamente, tem sido um vegetal tóxico a principal defesa da reserva natural contra incursões espanholas.

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Levantamento do fundo do mar à volta das Selvagens (as ilhas estão a negro), com gradações de profundidade Instituto Hidrográfico

O surgimento de uma microalga tóxica tem-se tornado mais eficaz na protecção da reserva natural das ilhas Selvagens, relativamente às ilegais incursões de embarcações provenientes das Canárias, do que a fiscalização portuguesa ou o controlo das autoridades espanholas, a evidenciar certo laxismo eventualmente propositado.

Também na opinião de Francis Zino, proprietário da única casa privada existente naquelas ilhas, "a grande salvação da reserva é, neste momento, uma microalga que produz uma neurotoxina chamada ciguatera, provocando distúrbios gastrointestinais e neurológicos a quem consome o peixe costeiro das Selvagens". Devido à microalga, da espécie Gambierdiscus toxicus, foi decretada pelo Comando Naval da Madeira a proibição de pesca, por tempo indeterminado e até ao apuramento do resultado das análises do Instituto de Pesquisa e Investigação Marítima (Ipimar). A interdição "circunscreve-se apenas às ilhas Selvagens, desde a linha de costa até à batimétrica dos 200 metros de profundidade".

Até 2004, as intoxicações por ciguatera registadas em países europeus derivavam de viagens prévias a zonas de risco, como ilhas das Caraíbas ou dos oceanos Índico e Pacífico. Mas naquele ano peixe contaminado com toxinas ciguatéricas foi capturado pela primeira vez nas Canárias.

A recorrência do fenómeno só viria a ocorrer mais a norte, nas ilhas Selvagens, quatro anos depois, levando então ao estabelecimento de limites de captura para certas espécies de peixes.

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