Manuais escolares para o ensino secundário: uma sugestão

Apadrinhe-se um projecto-piloto de elaboração de manuais escolares que possam ser descarregados gratuitamente da Internet, sendo os seus conteúdos propriedade do Estado através da compra dos direitos para difusão pública aos autores.

Desde há muito que me interrogo se a forma como são seleccionados os manuais escolares do ensino secundário é a melhor. Nas áreas das ciências naturais que mais me dizem, angustia-me o tempo que a ciência que hoje se faz demora a chegar aos referidos manuais. Os alunos são depois confrontados com um “há uns anos que já não é assim” que, apesar de pedagógico no contexto universitário, vai deixar o erro em todos aqueles que não aprofundam os conhecimentos do secundário, mercê das escolhas profissionais que fazem. Além disso, temos todos os anos uma despesa para as famílias de algumas centenas de euros por educando em livros já obsoletos quando saem e de difícil reutilização, o que é para mim incompreensível.

Numa época em que todas as escolas estão dotadas de ligação à rede, graças também ao esforço do Estado, entendo que o modelo dos manuais escolares tal como os conhecemos está a chegar ao fim – na forma, na actualização e no dinheiro que as famílias gastam.

A minha sugestão é que se apadrinhe um projecto-piloto de elaboração de manuais escolares que possam ser descarregados gratuitamente da Internet, sendo os seus conteúdos propriedade do Estado através da compra dos direitos para difusão pública aos autores.

Enumero algumas das vantagens que vejo no modelo proposto:
 
 

  • Actualização quase imediata de um ano lectivo para o seguinte, mudando apenas as páginas com alterações, se existirem;
  • Deixar a decisão de impressão ao critério dos pais e alunos (tipo de papel, encadernação, etc.), podendo os serviços de acção social escolar apoiar uma impressão por ano para quem necessite;
  • Impressões faseadas, consoante o evoluir da matéria, que diminuirão a carga às costas dos alunos e possibilitarão uma fácil reimpressão em caso de degradação, perda ou necessidade de refazer exercícios;
  • Um verdadeiro serviço público para a língua portuguesa, podendo ajudar quer as comunidades da diáspora portuguesa, quer a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) nas suas missões, ao alcance de um clique.

Claro está que não há bela sem senão: o lóbi das editoras de livros escolares e revendedores é fortíssimo e mantém um número significativo de postos de trabalho. Entendo que existam contratos de fidelização de alguns manuais que devem ser respeitados. O mais importante, no entanto, é que tal iniciativa tenha o apoio e a confiança das famílias. Tê-los-á, sem dúvida, se for feita de forma totalmente transparente: com um concurso público devidamente auditado por uma instituição idónea, quer para a elaboração do primeiro manual, quer para as suas actualizações.

Certamente que me falharão alguns dados nesta análise de prós e contras. Não estou a pedir que se mude tudo de um ano para o outro, mas fazer um projecto-piloto, a meu ver devendo começar pelos manuais do 12º ano, seria uma boa pedrada no charco em direcção a um novo caminho. Todos (ou quase todos) agradeceríamos.

Biólogo, professor auxiliar na Universidade Lusófona em Lisboa
 

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