Mais antigas pegadas humanas fora de África encontradas em Inglaterra

As pegadas, descobertas numa praia da região de Norfolk, constituem a primeira prova directa da presença humana na Europa há quase um milhão de anos.

O local onde as pegadas foram descobertas
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O local onde as pegadas foram descobertas Martin Bates
Pegadas no lodo vistas ao perto
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Pegadas no lodo vistas ao perto Martin Bates

Uma família inteira dos mais antigos humanos de que há vestígios na Europa caminhou à beira da água, talvez à procura de alimentos, deixando as suas pegadas no lodo. E, 800 mil anos mais tarde, as marcas dos seus pés foram descobertas por cientistas britânicos. Os resultados foram publicados nesta sexta-feira na revista online de acesso livre PLoS One.

Naquela altura, o actual Reino Unido não era ainda uma ilha – e onde hoje há costa e mar estendia-se uma planície aluvial, situada a vários quilómetros da costa,onde água salgada e água doce se misturavam, explica no seu site o Museu de História Natural (MNH) britânico, que participou na descoberta. O clima era parecido com o da actual Escandinávia – e ali pastavam bisontes e rinocerontes, pensam os especialistas. Os alimentos abundavam: tubérculos, algas, crustáceos e fontes de carne.

Os investigadores – uma equipa conjunta do MNH, do Museu Britânico e da Universidade de Queen Mary (todos em Londres) – avistaram pela primeira vez as pegadas em Maio do ano passado, durante a maré baixa. Como explica o The Guardian, a praia onde se encontravam é uma das que apresentam a maior taxa de erosão da costa oriental do país, razão pela qual as pegadas ficaram então expostas – e foram, aliás, destruídas passados 15 dias. Os cientistas tiveram, no entanto, tempo suficiente para tirar fotografias e obter moldes daquilo que parecia ser pegadas humanas.

“À primeira vista, não tínhamos a certeza do que estávamos a ver”, diz Nick Ashton, do Museu Britânico, citado pelo mesmo diário, “mas à medida que removíamos a areia e a água do mar, tornou-se claro que pareciam pegadas, talvez humanas”, salientando que se trata de um achado “raríssimo”.

Os cientistas confirmaram a seguir que eram de facto pegadas humanas, talvez deixadas por cinco indivíduos. A partir das pegadas – uma delas correspondia a um pé de tamanho 42 – conseguiram estimar que os elementos do grupo teriam entre 90 centímetros e mais de 1,70 metros de altura. Ou seja, eram provavelmente mais uma família, com adultos e crianças, do que um grupo de caçadores, por exemplo.

Chris Stringer, do MNH, também citado no site daquele museu, pensa que esses humanos primitivos poderão ter pertencido à espécie Homo antecessor. “Essas pessoas eram mais ou menos da nossa altura e plenamente bípedes”, diz Stringer. “Ter-se-ão extinto na Europa há uns 600 mil anos, talvez para serem substituídos pela espécie Homo heidelbergensis. Seguiram-se-lhes os neandertais, a partir de há 400 mil anos” – e até há 28 mil anos. Os humanos modernos (nós) chegaram à Europa, vindos de África, há menos de 100 mil anos.

Até aqui, as pegadas humanas mais antigas encontradas na Europa – no Sul de Itália – tinham uns 345 mil anos.

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