Laboratório Chimico abre hoje como museu de ciência

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O edifício foi construído entre 1773 e 1775 a mando do Marquês de Pombal Adriano Moreira/Público

O biólogo Paulo Gama Mota e o físico Carlos Fiolhais são os cicerones, em passo apressado, que há muito para ver, do Laboratório Chimico, a sede do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra, que é inaugurado hoje pelo ministro da Ciência, José Mariano Gago, e pela ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima.

Na frontaria, sobressai a luminosidade de um edifício acabado de recuperar, além do nome antigo bem lá no alto, "Laboratório Chimico". Ali à porta, Gama Mota, director do museu, sublinha a importância do edifício, construído entre 1773 e 1775 a mando do Marquês de Pombal: "É o mais antigo laboratório químico do mundo que resistiu até hoje." É provável até que seja o primeiro laboratório construído de raiz para o ensino da química, mas Paulo Gama Mota não arrisca tanto. "É contemporâneo do nascimento da química moderna."

Até 1998, o edifício, de estilo neoclássico, esteve ocupado com laboratórios e aulas. Depois, a Universidade de Coimbra começou a pensar na criação de um grande museu de ciência, com os mais de 200 mil objectos que possui.

O Laboratório Chimico é só a primeira fase desse projecto ambicioso, que passará pela transformação em museu dos mais de 12 mil metros quadrados do antigo Colégio de Jesus, que alberga as colecções de física (ricas em instrumentos do século XVIII e XIX) e de zoologia, geologia e mineralogia e ainda está a ser utilizado em aulas. As colecções antropológicas e de botânica também integrarão o museu.

Tanto um edifício como o outro, frente a frente no Largo do Marquês de Pombal, tiveram o dedo da reforma pombalina da universidade, de 1772 (o marquês queria que o ensino das ciências fosse experimental). Quando a segunda fase avançar, os dois edifícios jogarão um com o outro, sublinha Fiolhais, da comissão científica do museu. "Será o maior museu de ciência do país e poderá ser um dos grandes museus a nível europeu", frisa Gama Mota.

Guilherme Edsen foi o arquitecto que concebeu o Laboratório Chimico e reformulou o edifício do Colégio de Jesus, do século XVI, como director das obras da reforma da Universidade de Coimbra. "Depois do terramoto [de 1755] e de ter reformado Lisboa, o marquês reformou a universidade", observa Fiolhais. "Primeiro a cidade, depois a universidade."

Mas nada como entrar no Laboratório Chimico, para ver como a equipa do arquitecto João Mendes Ribeiro remodelou os mais de 2000 metros quadrados para a nova função de museu, após dois anos de obras e três milhões de euros (pagos pelo Programa Operacional de Cultura e a Universidade de Coimbra). Novo e antigo entrelaçam-se agora, quer no edifício, quer no projecto museológico de Pedro Casaleiro.

Gama Mota chama a atenção para o enorme pé direito, de nove metros, e para as janelas a rasgar a parede quase de alto a baixo. É impossível não espreitar o casario de Coimbra. Ou não dar com um anfiteatro do século XIX, cujo mobiliário para a prática da química veio de Inglaterra.

A história da recuperação do edifício vai estar numa exposição temporária. Já a permanente é dedicada aos Segredos da Luz e da Matéria.

Do fogo para a bancada

O visitante vai ter a uma sala com uma tabela periódica pendurada na parede, de 1926, e uma vitrina repleta de instrumentos. "Exibe objectos da química do século XVIII, a química do fogo, e a do século XIX, a química de bancada", explica Gama Mota. Por exemplo, um pequeno forno de cerâmica usado para preparações químicas que, depois, iam para fornos grandes.

Para a química passar do fogo para a bancada, houve duas inovações tecnológicas: o bico de gás inventado por Robert Bunsen, e as hottes, caixas incrustadas na parede com uma chaminé, que serviam para operações que libertassem gases. Essas hottes do século XIX continuam lá. E, ao centro da sala, uma bancada de madeira do século XIX vai ser usada por monitores para experiências de física e de química.

Na segunda sala da exposição - em tempos a zona do Laboratório Chimico para actividades como a metalurgia, onde ainda resiste um dos grandes fornos do século XVIII -, explora-se a relação entre a luz e a matéria. O que é a luz, a emissão e absorção da luz pela matéria, o Sol e a visão e a cor são os aspectos explorados.

Assim, pendurado no tecto está um elemento metálico com as cores do arco-íris, a lembrar a experiência de decomposição da luz de Newton. Ou uma réplica da sonda europeia Soho, que observa o Sol.

Mas o visitante também poderá participar em experiências interactivas. Uma outra mostra como os químicos conseguiram identificar os elementos químicos no Sol e em estrelas distantes só através da luz (porque cada elemento químico tem uma espécie de código de barras).

Pode acabar-se a visita a brincar com um projector esférico, com 1,2 metros de diâmetro, o único objecto numa sala às escuras. Podem projectar-se nele os planetas do sistema solar e o Sol: se se escolher a Terra, pode ver-se como se distribuiu a água na superfície ou como é a crosta oceânica sem água.

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