JCDecaux propôs início imediato da rede de bicicletas

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As pistas cicláveis de Lisboa distribuem-se por diferentes pontos, muitas delas integradas no corredor verde Foto: Pedro Cunha/arquivo

Projecto devia ter sido inaugurado há dois anos. Empresa que ganhou concurso propõe fase piloto com 500 unidades nas Avenidas Novas.

Domingo é dia de eleições legislativas e também Dia do Meio Ambiente, e pelo que é comummente aceite seria uma boa prática ambiental se os cidadãos fossem votar, deslocando-se de bicicleta até às assembleias de voto. Paredes, concelho do distrito do Porto, antecipou-se a Lisboa e lançou segunda-feira a rede de bicicletas partilhadas. Porém, em Lisboa, a mesma ideia marca passo: a capital continua sem solução para um projecto que deveria ter estreado há dois anos, a 5 de Junho de 2009.

A JCDecaux Portugal - Mobiliário Urbano e Publicidade foi uma das cinco concorrentes à criação da rede de bicicletas de Lisboa - pensada como um complemento aos transportes públicos -, e acabou por vencer o concurso, em Abril de 2009. Líder mundial de sistemas de bicicletas partilhadas e gestora desse sistema em Paris - que tem, desde Julho de 2007, 20.600 bicicletas utilizáveis em 1451 estações - a JCDecaux vai aplicar o mesmo conceito a Lisboa, e para obviar o atraso de dois anos já propôs à autarquia o início de uma fase experimental com 500 bicicletas, ou seja, um quinto do total de 2500 unidades previstas, a distribuir por 250 estações. O arranque da fase piloto deverá acontecer o mais cedo possível, na zona das Avenidas Novas, e aproveitando a recente reconfiguração da Avenida Duque de Ávila, que ganhou uma ciclovia.

Diz António Moita, administrador da empresa, que "uma vez iniciado o processo não há retrocesso, pois criar-se-ão hábitos nos lisboetas". O mesmo responsável alerta porém que "não faz sentido criar uma rede de ciclovias sem ter uma rede de partilha de bicicletas" - e Lisboa já tem 40 quilómetros de ciclovia. "O que faz sentido é reduzir a circulação de automóveis onde não fazem falta, seja na Baixa, que tem uma boa rede de transportes que seria complementada pelas bicicletas, seja nos percursos de bairro", sustenta.

Custo à volta de 50 milhões

Segundo os dados da JC Decaux, que concebeu e gere a circulação de mais de 46 mil bicicletas na Europa, em Brisbane (Austrália) e em Toyama (Japão), o tempo médio de utilização ronda os 15 minutos, para 1,5 a dois quilómetros de percurso.

As pistas cicláveis de Lisboa distribuem-se por diferentes pontos da cidade, muitas delas integradas no corredor verde, e todas elas com vocação preponderante de lazer e manutenção física. Quem pede urgência na criação de corredores úteis para os trajectos quotidianos de quem habita e trabalha na capital poderia ficar mais bem servido com a rede partilhada. De qualquer forma, a Câmara de Lisboa já deu início a cursos de utilização de bicicleta em meio urbano.

Numa reunião da assembleia municipal, em Novembro de 2008, a bancada do PSD perguntou como seria financiada a rede que, segundo uma expectativa de encargos camarários, custaria na ordem dos 50 milhões de euros nos primeiros dez anos. A abertura do processo de contratação da criação da rede partilhada foi na altura chumbada e o executivo ficou de encontrar uma alternativa de financiamento. O que ainda não aconteceu.

António Moita, da JCDecaux, diz que o melhor modelo de negócio, seguido por outras cidades europeias como Paris passa por contrapartidas na publicidade afixada no mobiliário urbano. Porém, em Lisboa isso está longe de poder acontecer. Pelo menos até 2015. "Nós e outro operador [Cemusa] temos contrato com a câmara até essa altura", explica.

Questionado sobre esta matéria, tal como a respeito da proposta da JCDecaux para o lançamento de parte do projecto, o vereador José Sá Fernandes, responsável pelo projecto da rede de bicicletas partilhadas, nada respondeu. "Não há novidades sobre esta matéria", disse ao PÚBLICO um elemento do seu gabinete.

A criação de uma rede de bicicletas partilhadas é uma das medidas previstas no relatório final do Programa de Melhoria da Qualidade do Ar em Lisboa, em conformidade com a directiva da Comissão Europeia. Outra das medidas a executar, a partir de Julho, pela câmara passa pela restrição da circulação na Baixa de veículos automóveis sem conversor catalítico, isto é, os carros anteriores a 1993.

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