Jamantas mergulham até às profundezas depois de se aquecerem ao sol

Estudo seguiu por satélite animais marcados nas águas dos Açores e incluiu cientistas portugueses.

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Grupo de jamantas no topo de um monte submarino a várias milhas da ilha de Santa Maria, Açores Nuno Sá

Até hoje, considerava-se as jamantas como habitantes de águas superficiais. Mas um estudo feito nos Açores, publicado na última edição da revista Nature Communications, revela que afinal estas criaturas mergulham regularmente a grandes profundidades.

Esta investigação, que resulta de uma colaboração entre investigadores do IMAR – Universidade dos Açores e do Laborató, e da Instituição Oceanográfica de Woods Hole, nos Estados Unidos, abre uma nova janela sobre as longas migrações e hábitos de mergulho deste predador marinho mal conhecido até agora.

A equipa, que inclui os investigadores portugueses Pedro Afonso, Jorge Fontes e Ricardo Serrão Santos, usou marcadores de satélite, que permitiam seguir os movimentos de 15 jamantas e documentar as suas migrações entre o arquipélago dos Açores e a zona oceânica subtropical ao largo da costa noroeste de África, durante vários meses. Marcadas nos Verões de 2011 e 2012 por mergulhadores, as jamantas foram sendo acompanhadas à distância até cinco meses depois da marcação, registando-se a sua posição, profundidades que atingiam e a temperatura da água.

Os dados revelaram mergulhos frequentes até profundidades de quase dois quilómetros (entre os maiores alguma vez medidos para um animal marinho), onde as temperaturas da água atingem os três graus Celsius.

“Durante o dia, as jamantas passam mais tempo à superfície exactamente antes e logo após os mergulhos profundos, presumivelmente para se aquecerem ao sol, o que lhes permite efectuar mergulhos mais longos", explicou Pedro Afonso à agência Lusa.

Os grandes predadores marinhos que efectuam mergulhos profundos, como os atuns e o tubarão branco, conseguem manter a temperatura cerebral acima da temperatura ambiente, explicou o cientista. Isso permite-lhes “manter a actividade cerebral e a acuidade visual elevadas”, o que se torna uma vantagem quando se tem de caçar presas em águas profundas e geladas.

“A existência de uma elaborada vascularização na jamanta oceânica [Mobula tarapacana] também tinha sido usada para avançar a hipótese de que elas aquecessem o cérebro através deste mecanismo de troca de calor”, adiantou Pedro Afonso.

Além de oferecer uma explicação para a existência do elaborado sistema de conservação de calor nas jamantas, este comportamento revela também, segundo os cientistas, um elo importante entre as camadas superficiais e as mais profundas do oceano.

“De facto, os perfis de mergulho sugerem que as jamantas poderão alimentar-se nestas profundidades batiais [entre os 200 e os 3000 metros], onde se sabe existirem grandes biomassas de alimento.”

As jamantas pertencem a um grupo de espécies recentemente consideradas como ameaçadas, razão pela qual o estudo agora publicado poderá ajudar a responder aos desafios de conservação que se colocam.

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