Detectado erro na descida da nave da Virgin Galactic

Empresa do multimilionário Richard Branson acusada de ser insegura.

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Os destroços da nave no deserto do Mojave, na Califórnia David McNew/Reuters

O inquérito oficial para apurar a causa do acidente da nave da Virgin Galactic na sexta-feira pode durar um ano, de acordo com o Comité Nacional para a Segurança dos Transportes dos Estados Unidos (NTSB, sigla em inglês), responsável pela investigação dos acidentes de transporte do país. A nave despenhou-se no deserto do Mojave, na Califórnia, matando o co-piloto. O piloto conseguiu ejectar-se com pára-quedas mas ficou gravemente ferido. As primeiras investigações mostram que a manobra da nave para a descida foi feita mais cedo do que o previsto, mas não se sabe se este erro está relacionado com o acidente.

“Não estou a dizer que esta tenha sido a causa do acidente. Temos meses e meses de investigação para determinar a causa”, disse Christopher Hart, presidente interino da NTSB, numa conferência de imprensa no domingo. O responsável não nega a hipótese de o acidente ter sido originado por um erro de pilotagem. “Não pomos nenhuma hipótese de lado”, disse, citado pela agência Reuters.

Os destroços da SpaceShipTwo ficaram espalhados ao longo de oito quilómetros do deserto, segundo a agência AFP. A nave da Virgin Galactic foi pensada para realizar o sonho de turismo espacial do multimilionário britânico Richard Branson, fundador das lojas de música Virgin.

Cerca de 800 pessoas já pagaram ou fizeram um depósito de 250 mil dólares para, no futuro, viajarem com a Virgin Galactic até aos 100 quilómetros de altura. Será aí que turistas espaciais como o empresário português Mário Ferreira, mas também Tom Hanks, Stephen Hawking, Brad Pitt ou Angelina Jolie poderão observar a Terra no meio do espaço e estar em gravidade zero durante alguns minutos.

A viagem está pensada para ter duas etapas. Na primeira, a nave é transportada por um aparelho de aviação até aos 13,7 quilómetros de altitude. Depois, o aparelho larga a nave que subirá até aos 100 quilómetros com a ajuda de motores. Mas com este acidente, o futuro destas viagens de turismo espacial deu um passo atrás.

Apesar disso, Richard Branson disse no sábado que não vai desistir deste programa. “O espaço é difícil – mas vale a pena”, escreveu num texto publicado no site da empresa.

Na sexta-feira, estava a fazer-se o primeiro teste de voo com o novo combustível para a SpaceShipTwo. Em Maio, a Virgin Galactic e a Scaled Composites, empresa que pertence à Northrop Grumman, mudaram o tipo de motor do veículo, passando para um motor híbrido, que utiliza dois tipos de combustível. A Scaled Composites desenhou tanto a nave SpaceShipTwo como o WhiteKnightTwo, o avião que transporta a SpaceShipTwo na primeira etapa da viagem. De acordo com a empresa, a nova mistura de combustível da SpaceShipTwo, um sólido e outro líquido, já tinha sido testada no solo, mas nunca num voo.

No dia do acidente, o WhiteKnightTwo foi lançado com a SpaceShipTwo do Centro do Espaço e do Ar do Mojave. O veículo subiu até aos 13,7 quilómetros e separou-se da nave normalmente. O acidente deu-se 12 minutos após a separação, de acordo com as testemunhas, explica a agência AFP.

“O funcionamento do motor foi normal até à extensão das 'penas'”, explicou Christopher Hart, acrescentando que foi a partir daí que as coisas correram mal. As “penas” são a configuração que as asas da SpaceShipTwo tomam para a nave aterrar. Esta configuração é inspirada no volante usado no badminton, com 16 penas de ganso ou pato, cuja estrutura é muito estável quando cai.

Segundo a peritagem, na sexta-feira, as asas da SpaceShipTwo foram colocadas demasiado cedo naquela configuração, quando o aparelho viajava apenas à velocidade de Mach 1 (velocidade do som que equivale a 1235 quilómetros por hora), e não a Mach 1,4, quando de facto a configuração das asas deveria ter mudado.

Para já, não há qualquer indicação de que algo tenha corrido mal com o motor. Os investigadores recuperaram intactos tanto os tanques de combustível como o motor, indicando que não houve explosão. “O motor funcionou normalmente até à extensão das 'penas'”, disse Christopher Hart.

Mas há quem defenda que a Virgin Galactic ignorou os avisos sobre o novo motor de fusão. “Avisei-os de que o motor de fusão é potencialmente perigoso”, declarou Carolynne Campbell, especialista em motores de fusão da Associação Internacional para a Promoção da Segurança Espacial, à AFP. A perita enviou em 2009 cópias de um artigo científico sobre os perigos deste tipo de motores a “diferentes pessoas da Virgin Galactic, mas ignoraram-me”.

Mas para o director da Virgin Galctic, George Whitesides, é tudo uma questão de escolha de tecnologia. “No sector do espaço, pode-se encontrar pessoas que preferem uma tecnologia a outra. Alguns dirão que a sua tecnologia é melhor do que a outra”, disse, citado pelo jornal Financial Times.

Este não é, porém, o primeiro acidente da empresa. Em 2007, três engenheiros morreram numa explosão de um foguetão no centro espacial de Mojave. Tom Bower, autor de uma biografia sobre Richard Branson, disse à Rádio BBC que depois daquele acidente muitos engenheiros demitiram-se da Virgin Galactic. “Todos os engenheiros na Califórnia com quem falei e que trabalharam no projecto dizem que é perigoso”, disse, citado pela AFP.

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